domingo, junho 13, 2010

Mundial ao Contrário

Este apelo foi traduzido do sítio das Missionárias Combonianas Combonifem. É um apelo enviado à embaixadora da Africa do Sul na Itália, tendo como primeiro assinante o P. Alex Zanotelli, missionário comboniano, a favor dos pobres na África do Sul e dos movimentos que procuram defender os seus direitos. A campanha pretende recolher o maior número possível de assinaturas até ao dia 20 de Junho.

Sua Excelência, Embaixadora Thenjiwe Mtintso, somos associações, movimentos de base, cidadãos particulares. Todos carregamos no coração a história da África do Sul, a grande luta dos movimentos de libertação que aí se desenvolveram nas últimas décadas e o destino das populações oprimidas que foram protagonistas dessas lutas. Consideramos que é fundamental para a construção da nova África do Sul a promoção dos direitos e do papel social e político dos pobres.
Estamos particularmente preocupados com o tratamento dado aos habitantes dos bairros de lata e dos vendedores de rua por ocasião do Campeonato do mundo de Futebol. Os habitantes dos bairros de lata são despejados à força de suas casas e obrigados a viver em “transit camps”, enquanto aos vendedores de rua foi proibido vender as suas mercadorias enquanto durar o Campeonato do mundo. Aos pobres não lhes foi concedida a possibilidade de participar na construção de um percurso comum que conduzisse ao Campeonato do mundo. Ao contrário o Campeonato do mundo tornou-se numa oportunidade para reestruturar as cidades segundo critérios que favorecem somente a elite. Os pobres são atirados fora, longe dos olhos dos turistas e dos jornalistas. Por outro lado, as medidas de segurança adoptadas nos Mundiais limitam fortemente o direito que os cidadãos têm de exprimir democraticamente a dissidência em relação a este estado de coisas.
O movimento de base Abahlali base Mjondolo, construindo todos os dias uma democracia real, directa e participada, tem procurado opor-se a tudo isto desde há anos e luta pelo resgate dos mais pobres, pelo direito à terra, a casa, aos serviços básicos e a uma existência digna. Nós partilhamos das lutas deste extraordinário movimento e estamos do seu lado.
O movimento tem sido objecto de acções de repressão e de ataques violentos, o mais grave dos quais em Setembro de 2009 na ocupação espontânea da Kennedy Road em Durban, por dezenas de pessoas armadas, e que causou alguns mortos, a destruição de casas e bens de membros da Abahlali e a fuga de muitos deles para escaparem à violência. Apesar disso, detiveram 13 pessoas de entre as vítimas do ataque. Abahlali base Mjondolo e muitos observadores entre os quais alguns líderes religiosos, associações, ONG’s, académicos e simples cidadãos denunciando o papel ambíguo desenvolvido pela polícia local e pelos dirigentes locais do Anfrican National Congress (ANC). Estes últimos declararam à imprensa que a ocupação da Kennedy Road tinha sido “dispersada”.
No dia 31 de Maio, uma delegação de Abahlali, que se encontrava na Itália no decurso da campanha Mundial ao contrário (Mondiale al contrario), foi recebida na embaixada sul-africana em Roma. Durante o encontro foi pedido que a sua embaixada se fizesse porta-voz das exigências do movimento diante do governo sul-africano. Também nós fazemos nossas as exigências de Abahlali base Mjondolo e, por seu intermédio, pedimos às autoridades sul-africanas:
• Que o presidente Jacob Zuma responda ao memorando apresentado pela Abahlali base Mjondolo no dia 22 de Março 2010;
• Que os “transit camps” sejam abolidos e que os pobres possam ter pleno direito a viver na cidade;
• Que seja instituída uma comissão credível e independente para investigar os eventos ocorridos na Kennedy Road em Setembro de 2009;
• Que sejam imediatamente postos em liberdade Khaliphile Jali, Stutu Koyi, Zandisile Ngutshana, Siyabulela Mambi e Samukeliso Mkhokhelwa, as cinco pessoas ainda detidas injustamente em Westville no seguimento do ataque a Kennedy Road e ainda não informadas, 9 meses depois, sobre as motivações da sua detenção;
• Que as autoridades sul-africanas nacionais e locais se empenhem e garantam o pluralismo político e o direito de associação e de expressão da dissidência em todas as ocupações informais assim como nas cidades interessadas nas manifestações desportivas do Campeonato do mundo.
Certos de que quererá dar ao nosso apelo o peso que merece, apresentamos-lhe saudações especiais.
Pode-se enviar, até 20 de Junho, a adesão própria para carta@carta.org  com assunto “Adesione appelo Sudafrica”, indicando nome e sobrenome, cidade, eventual qualificação profissional e/ou organização à qual pertence. O número e os nomes dos aderentes serão apresentados nas páginas Web de Carta. Será transmitido regularmente à Embaixada da África do Sul um relatório sobre o andamento da recolha de adesões.

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