As paróquias de Camarate e Apelação, no concelho de Loures, estão ao cuidado dos
Missionários Combonianos que têm aí uma comunidade de quatro
missionários. Dois de nós, eu e o Ir. José Manuel, estamos agora a
dar início a um projeto da iniciativa dos nossos superiores
provinciais da Europa. O projeto é na área da pastoral social,
trabalho com migrantes, comunidades ciganas, justiça e paz.
Ultimamente
temos falado muito de periferias e corremos o risco de esvaziar de
sentido esta expressão! O objetivo é trazer as periferias para o
centro; não para o centro do sistema opressor e egoísta que mata e
mantém pessoas numa situação contínua de empobrecimento. Mas é
trazer os pobres para o centro das nossas atenções, das atenções
das igreja e das autoridades, que têm a responsabilidade de cuidar
deles e de lhes proporcionar uma vida digna.
A
igreja portuguesa, da qual eu faço parte, deve ter a coragem e a
ousadia de levar à prática esta etapa nova da evangelização tão
desejada pelo Papa Francisco, e reinventar a linguagem do evangelho
de Jesus, isto é, fazer com que o evangelho continue a ser Boa
Notícia. O grande desafio que eu sinto como missionário, é o de
perceber que Camarate e Apelação são o lugar da missão que o
Senhor quer para mim, neste momento da minha vida.
Levar
Deus às periferias é a metodologia de Jesus. Ela deve ser também a
minha. Como sacerdote missionário sou chamado a ser sinal da
presença de Deus, lá onde os pobres vivem e onde Deus parece muitas
vezes estar ausente.
Gostaria
que o meu ministério sacerdotal fosse o contributo, embora pobre e
talvez insignificante, para levar Jesus Cristo às periferias, sejam
elas geográficas ou existenciais. Para isso, devo estar presente na
vida dos pobres e os pobres devem tornar-se cada vez mais o centro do
meu ministério que deve ser sempre um ministério de presença e
inserção.
Jesus
não chamou ninguém para ser sacerdote, mas sim discípulo. Talvez
alguns de nós fiquemos escandalizados com estas palavras. Ele não
foi condenado por ter proposto uma liturgia diferente, mas porque
tomou partido pelos pobres e convidou um grupo de amigos para o
seguirem, e com isso desafiou e provocou os poderosos do seu tempo,
incluindo os sacerdotes de Jerusalém. Aliás, Jesus teve alguns
problemas com os sacerdotes de Jerusalém, alguns dos quais
contribuíram para a sua condenação à cruz. Há uma crítica
severa que Jesus faz aos sacerdotes na parábola do bom Samaritano: a
liturgia (dever sacerdotal) deve ser subordinada ao serviço ao
outro, isto é, fazer-se próximo é mais importante do que a
liturgia. E eu devo estar sempre muito atento para não ser objeto da
mesma crítica. A liturgia, por mais importante que seja, ou me leva
a ser “próximo”,
ou então é desprovida de significado.
A
questão que eu me coloco muitas vezes é esta: como é que eu
estabeleço o equilíbrio entre aquilo que é a pastoral tradicional
ou de manutenção, também ela necessária, e os grandes desafios
que me são diariamente colocados pelos enormes problemas sociais que
afetam a nossa gente e que a fazem sentir-se abandonada por por
todos, incluindo Deus?
Partilho
convosco estas histórias banais da minha vida e do meu ministério
porque elas marcaram profundamente a minha vida de sacerdote
missionário. Tive a graça de ter podido partilhar da vida de tanta
gente maravilhosa que, através da partilha das suas vidas comigo me
ensinaram a ser sacerdote missionário e a descobrir Deus nos
acontecimentos simples da vida daqueles que o Senhor foi colocando no
meu caminho.
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