Vivemos dias de silêncio e de medo! Dias de morte e de incertezas em
relação ao futuro. Mas hoje celebramos a ressurreição do Senhor
e, por isso, celebramos a esperança. A esperança de que o Senhor
está connosco e que, precisamente por isso, não devemos ter medo. A
esperança de que, com o Espírito do ressuscitado, seremos capazes
de vencer o silêncio e o medo.
Medo e desilusão são os sentimentos que as mulheres, segundo o
evangelho de Marcos, sentem quando vêem o sepulcro vazio. Sentem-se
paralisadas e, apesar de terem recebido o mandato de ir comunicar a
mensagem aos outros discípulos, mantiveram-se em silêncio e “não
disseram nada a ninguém” (Mc 16, 7-8). Elas são imagem dos
discípulos, que ao longo do caminho que fizeram com Jesus, sempre
manifestaram medo, que só Jesus os ajudou a ultrapassar (Mc 4, 41;
6, 50; 9, 6; 9, 32; 10, 32).
Devemos, portanto, pensar na forma como somos chamado a viver a vida
nova do Senhor ressuscitado no quotidiano da nossa vida. O mandato de
ir para a Galileia, onde Jesus precederá os seus discípulos, é
dirigido também a cada um de nós hoje. É na Galileia da nossa vida
que devemos viver a vida nova que o senhor ressuscitado quer
partilhar connosco e, através de nós, com os que vamos encontrando
nos caminhos da nossa vida. E que está bem ter medo, desde que
estejamos perto de Jesus, porque com ele venceremos o medo e a
tentação de permanecer em silêncio perante a urgência do anúncio.
A Galileia é o lugar onde Jesus iniciou o seu anúncio do reino; aí
chamou os discípulos a segui-lo; aí foi sinal da presença do amor
de Deus para tanta gente pobre, explorada e marginalizada, seja pelas
autoridades políticas seja pelas religiosas; aí Jesus anunciou um
reino alternativo questionando e contestando os poderes instalados;
um reino de paz, justiça, solidariedade, perdão. Isto é, um reino
em que as relações humanas são baseadas no valor que cada tem
diante de Deus.
A Galileia são os nossos hospitais, centros de saúde e lares de
idosos onde os profissionais de saúde tão generosamente se dedicam
a servir o outro e levam em si esta esperança de que o medo e as
incertezas não nos podem paralisar. É aí que é mais necessária
uma palavra de esperança.
Ao refletirmos sobre a ressurreição de Jesus, somos tentados a
ficar a “olhar para o céu” (Atos 1, 11). Isto é, somos
tentados a colocar a nossa esperança numa vida para além desta,
esquecendo-nos de que é aqui que somos chamados a viver a vida nova
do ressuscitado. A esperança na vida eterna é fundamental para o
cristão, pois aí seremos acolhidos no eterno abraço amoroso do
Pai. Mas essa esperança serve de pouco àqueles que vivem uma vida
de sofrimento e de dor neste mundo. E Jesus veio também para que
este mundo fosse melhor, porque é neste mundo que a salvação ou
condenação de cada um começa.
Na sua homilia de quinta-feira Santa, na Basílica de S. Pedro, o P.
Cantalamessa fez-nos um desafio importante: “Deixemos à geração
que virá, se necessário, um mundo mais pobre de coisas e dinheiro,
mas mais rico de humanidade”. É este o grande desafio que nos
é dado viver. Não nos deixemos paralisar pelo medo e pelo
desespero! Ele está vivo, sim, e não nos deixa sozinhos.
Então, o convite do Senhor ressuscitado é de continuarmos a fazer
caminho com Ele, na Galileia onde nos é dado viver, agora com a
força do ressuscitado, porque ele está sempre connosco e nos dá a
força para sermos também nós anunciadores da esperança. Nós
carregamos connosco a vida nova do ressuscitado, e connosco
carregamos também a esperança num mundo melhor que todos somos
chamados a construir.
Fazer a experiência do ressuscitado depende da nossa atitude diante
do mistério pascal! Com a paixão e morte de Jesus, podemos ficar em
silêncio, paralisados pelo medo ou podemos também nós ir “dizer
aos [seus] irmãos que partam para a Galileia” (Mt 28, 10);
podemos fugir ou regressar ao início do nosso caminho de fé, que é
o caminho com Jesus, agora fortalecidos pelo Espírito do
ressuscitado. A experiência do ressuscitado dependerá sempre da
nossa capacidade de renovar o compromisso de o seguir e, seguindo-o,
ser sinal da sua presença viva para aqueles que, como na Galileia
daquele tempo, se sentem hoje oprimidos, carenciados, injustiçados.
Assim, Jesus continuará sempre vivo! Vamos também nós para a
Galileia continuar o caminho de Jesus e dizer a todos que Ele está
vivo. Sim, ressuscitou! Aleluia!