sábado, fevereiro 01, 2020

Dasafio dos Pobres I

Quando dou comida aos pobres, chamam-me santo; quando pergunto porque é que eles são pobres, chamam-me comunista”. (Dom Hélder Câmara, bispo de Olinda e Recife, Pernambuco – Brasil).

Nota bibliográfica
Bairral é uma pequena aldeia situada a cerca de 7km a sul da cidade de Lamego. Aí nasci a 14 de Fevereiro de 1963 e fui batizado no dia 25 do mesmo mês (segunda-feira); sou o mais velho de onze irmãos (cinco rapazes e seis raparigas).
Nasci num ambiente familiar onde se viviam os valores cristãos da fé, participação na Eucaristia, oração diária do terço em família e solidariedade com os pobres. Sempre me impressionou muito a sensibilidade dos meus avós e dos meus pais para as necessidades dos pobres, num tempo em que, quase diariamente passava pela aldeia alguém que pedia um naco de pão, uma tigela de sopa ou um copo de vinho!
Na minha paróquia, Penude, vivia-se ainda um ambiente religioso onde a participação na missa dominical era obrigatória: quem não ia à missa era objeto de conversas e de críticas na rua. Este ambiente contribuiu muito para o meu crescimento como pessoa, e para o nascimento e desenvolvimento da minha vocação missionária.
Foi na escola primária que eu ouvi falar dos Missionários Combonianos pela primeira vez. Ao ouvir o missionário comboniano P. Lorenzo Turrini, (italiano) falar de Moçambique e das carências de todo o tipo vivido pelas populações em plena guerra colonial, senti pela primeira vez o apelo para a vida missionária como forma de fazer alguma coisa pelas crianças de Moçambique das quais nos falou com muito entusiasmo o P. Turrini.

Génese da minha vocação
Quando pela primeira vez fui ter com o meu pároco e dizer-lhe que iria entrar no seminário das missões, como era conhecido o seminários dos Missionários Combonianos em Viseu, ele imediatamente me sugeriu que eu entrasse no seminário de Lamego, pois ‘temos muita falta de sacerdotes’ dizia. Eu apreciava muito o meu pároco que era um homem bom, extremamente simpático com os paroquianos, muito sociável, sempre disponível. Mas eu vivia uma inquietação interior que me transportava para longe e por isso, naquele momento, não sei se por inspiração do Espírito Santo ou por pura malícia, respondi que não sabia se queria ser padre; o que eu queria era ser missionário.
Mas houve um sacerdote que, embora eu não conhecesse muito bem pessoalmente, foi para mim uma referência. O P. Brás, pároco durante mais de 60 anos da paróquia próxima da minha, era um homem simples, um pouco rude no trato, mas de uma disponibilidade e proximidade das pessoas de uma forma que só um verdadeiro homem de Deus pode fazer. Era muitas vezes chamado a visitar os doentes, com muita frequência a meio da noite, coisa que ele sempre fazia com prontidão, mesmo quando era a necessário sair nas noites frias de inverno, para ir à aldeia que ficava do outro lado do rio a cerca de três quilómetros de distância por carreiros cheios de pedras e lama, para administrar os ‘últimos sacramentos’. Vestia a sua batina por cima do pijama, diziam, e depois de colocar a tradicional capa aos ombros aí saía ele, sempre acompanhado de alguém (um homem, claro) não fossem os paroquianos pensar coisas feias ao ver o seu pároco sair a meio da noite e chegar a casa uma ou duas hora depois. Esta sua proximidade com as pessoas, a sua sensibilidade para as necessidades da gente e a prontidão para se fazer presente e tornar Deus presente faziam com que lhe perdoassem algumas atitudes ou palavras menos próprias nas suas homilias.

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