“Quando
dou comida aos pobres, chamam-me santo; quando pergunto porque é que
eles são pobres, chamam-me comunista”.
(Dom Hélder Câmara, bispo de Olinda e Recife, Pernambuco –
Brasil).
Nota bibliográfica
Bairral
é uma pequena aldeia situada a cerca de 7km a sul da cidade de
Lamego. Aí nasci a 14 de Fevereiro de 1963 e fui batizado no dia 25
do mesmo mês (segunda-feira); sou o mais velho de onze irmãos
(cinco rapazes e seis raparigas).
Nasci
num ambiente familiar onde se viviam os valores cristãos da fé,
participação na Eucaristia, oração diária do terço em família
e solidariedade com os pobres. Sempre me impressionou muito a
sensibilidade dos meus avós e dos meus pais para as necessidades dos
pobres, num tempo em que, quase diariamente passava pela aldeia
alguém que pedia um naco de pão, uma tigela de sopa ou um copo de
vinho!
Na
minha paróquia, Penude, vivia-se ainda um ambiente religioso onde a
participação na missa dominical era obrigatória: quem não ia à
missa era objeto de conversas e de críticas
na rua.
Este ambiente contribuiu muito para o meu crescimento como pessoa, e
para o nascimento e desenvolvimento da minha vocação missionária.
Foi
na escola primária que eu ouvi falar dos Missionários Combonianos
pela primeira vez. Ao ouvir o missionário comboniano P. Lorenzo
Turrini, (italiano) falar de Moçambique e das carências de todo o
tipo vivido pelas populações em plena guerra colonial, senti pela
primeira vez o apelo para a vida missionária como forma de fazer
alguma coisa pelas crianças de Moçambique das quais nos falou com
muito entusiasmo o P. Turrini.
Génese da minha vocação
Quando
pela primeira vez fui ter com o meu pároco e dizer-lhe que iria
entrar no seminário
das missões,
como era conhecido o seminários
dos Missionários Combonianos em Viseu, ele imediatamente me sugeriu
que
eu entrasse
no seminário de Lamego, pois ‘temos
muita falta de sacerdotes’
dizia. Eu apreciava muito o meu pároco que era um homem bom,
extremamente simpático
com os paroquianos, muito sociável, sempre disponível. Mas eu
vivia
uma inquietação interior que me transportava para longe
e por isso, naquele momento, não sei se por inspiração do Espírito
Santo ou por pura malícia, respondi que não sabia se queria ser
padre; o que eu queria era ser missionário.
Mas
houve um sacerdote que, embora eu não conhecesse muito bem
pessoalmente, foi
para mim uma referência. O P. Brás, pároco durante mais de 60 anos
da paróquia próxima da minha, era um homem simples, um pouco rude
no trato, mas de uma disponibilidade e proximidade das pessoas de uma
forma que só um verdadeiro homem de Deus pode fazer. Era muitas
vezes chamado a visitar os doentes, com muita frequência a meio da
noite, coisa que ele sempre fazia com prontidão, mesmo quando era a
necessário sair nas noites frias de inverno, para ir à aldeia que
ficava do outro lado do rio a cerca de três quilómetros de
distância por carreiros cheios de pedras e lama, para administrar os
‘últimos sacramentos’. Vestia a sua batina por cima do pijama,
diziam, e depois de colocar a tradicional capa aos ombros aí saía
ele, sempre acompanhado de alguém (um homem, claro) não fossem os
paroquianos pensar coisas feias ao ver o seu pároco sair a meio da
noite e chegar a casa uma ou duas hora depois. Esta sua proximidade
com as pessoas, a sua sensibilidade para as necessidades da gente e a
prontidão para se fazer presente e tornar Deus presente faziam com
que lhe perdoassem algumas atitudes ou palavras menos próprias nas
suas homilias.
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