Hoje, 16 de Julho, é o dia do aniversário da minha ordenação sacerdotal. 15 anos ao serviço da missão como sacerdote missionário comboniano. Ao escrever estas palavras quero exprimir a minha gratidão a Deus e a quantos fizeram e fazem parte da minha história. Por isso, quero recordar o apoio incondicional dos meus pais e irmãos e restantes familiares e amigos que, ao longo destes anos todos sempre estiveram ao meu lado e me encorajaram a ser fiel ao meu sacerdócio.
Este é também um momento para fazer memória de algumas outras pessoas e eventos que marcaram a minha vida como sacerdote. Tiveram uma importância fundamental os primeiros três anos logo a seguir à minha ordenação, passados no Sudão do Sul. Tempos difíceis da guerra, foram marcados sobretudo pelo exemplo e entusiasmo missionário de dois homens que me ensinaram a ser missionário e sacerdote. Falo do P. Elvio Chellana, que já se encontra na casa do Pai, e do Ir. Valentino Fabris que foram para mim exemplos de entusiasmo, serviço, fidelidade, entrega e amor à gente que todos procurámos servir. O Ir. Valentino tem agora 88 anos de idade. Um exemplo de fidelidade ao Senhor a quem serviu, quase sempre no Sudão, desde 1949.
As viagens intermináveis de bicicleta pela floresta densa e verde, são algo que eu recordarei sempre como uma experiencia extraordinária da minha vida. Às vezes difíceis por causa da malária que nos visitava frequentemente como amiga fiel, estas viagens faziam-me sentir perto de Deus e da natureza; faziam-me também sentir muito perto da gente, pois quando visitávamos as aldeias ficávamos sempre várias semanas fora, vivendo no meio da gente e adoptando o seu estilo de vida. Foram anos marcados pelo “encontro” com Deus, com aquela gente simples e pobre (os Azande) e comigo próprio. Estes primeiros anos de sacerdócio lançaram os alicerces da minha vida missionária.
Os anos que se seguiram (1998-2005) passei-os em Portugal e foram marcados essencialmente pelo desejo de voltar à missão. E, embora o meu desejo era de poder voltar ao Sudão, os superiores pediram-me para partir para a Zâmbia, onde me encontro presentemente.
Na Zâmbia, tive a oportunidade de trabalhar em Chikowa, uma missão no interior do país, em muitos aspectos semelhante a Nzara, no Sul do Sudão. E, quando estava já a sentir-me ‘em minha própria casa’ foi-me pedido novamente para partir, desta vez para Lilanda, uma paróquia nos arredores de Lusaka. Esta é uma realidade completamente diferente de todas as outras que eu tinha vivido anteriormente.
Lilanda é um lugar muito especial. A vida da comunidade cristã é marcada pela celebração e pela festa que contrastam com a pobreza generalizada característica dos bairros pobres da cidade. Aqui tenho aprendido a celebrar Deus, o Deus do encontro e da vida! Posso dizer que os cristãos de Lilanda me têm ensinado a ser sacerdote sobretudo pela grande capacidade de colocar tudo nas mãos de Deus e de celebrar a fé.
Ser padre para mim tem sido um caminho de contínua descoberta; descoberta de Deus na oração e no ministério que me foi confiado; descoberta dos valores e da fé daqueles que se têm cruzado comigo ao longo da minha vida; descoberta de mim mesmo e dos dons que o Senhor me tem concedido para o exercício da minha vocação missionária. Descoberta do facto de que nunca estive sozinho nesta bonita aventura de servir a gente na simplicidade e na pobreza da minha pessoa. O Senhor esteve sempre lá! Estiveram lá também tanta gente que, com a sua oração e apoio me têm sustentado no caminho.
Tenho certamente encontrado dificuldades! Mas as dificuldades são parte de qualquer vida digna de ser vivida. Hoje não peço a Deus para as remover do meu caminho, mas a força para continua a servi-Lo com generosidade. Por isso termino esta minha partilha recordando as palavras de Brenda Short:
“Não peças para que a carga da tua vida seja leve,
Mas pela coragem de perseverar;
Não peças pela tua realização pessoal em toda a tua vida,
Mas pela paciência na aceitação da frustração;
Não peças por perfeição em tudo o que fazes,
Mas pela sabedoria para não repetir os mesmos erros;
E, finalmente, não peças por mais nada sem antes dizer
‘Obrigado’ pelo que já recebeste”.
Zikomo kwambiri.