segunda-feira, julho 26, 2010

Festa em Lilanda

No Domingo, 25 de Julho, teve lugar em Lilanda a Festa da Paróquia. A Eucaristia, que teve lugar na Escola Comunitária St. Joseph de Lilanda, contou com a presença de vários milhares de cristãos que celebraram o seu padroeiro S. André Kaggwa (um dos mártires do Uganda) com muita alegria e entusiasmo. A celebração foi marcada pela alegria e pela festa. Numa cerimónia cheia de cor, os cânticos e a dança deram um brilho muito especial à celebração da Eucaristia.
Ao mesmo tempo celebrámos o 10º aniversário da existência da nossa Escola Comunitária que proporciona a possibilidade de ir à escola a mais de 300 crianças órfãs da nossa paróquia. Por isso, as crianças da escola tiveram um lugar especial na celebração.
No final da Eucaristia, teve lugar um momento de confraternização com destaque para as várias actividades culturais e recreativas: canções, danças, poemas, teatros, e muita alegria. Também aqui as crianças da escola e do jardim infantil alegraram toda a gente com a sua actuação.
Esteve connosco o Sr. Pepe Verdugo, médico espanhol, em representação da Fundación Solidaridad Candelaria, que nos ajuda a financiar a nossa Escola de St. Joseph. Foi um momento muito importante para expressar a nossa gratidão à Fundação e ao Sr. Pepe pela ajuda preciosa que nos estão a prestar, tornando assim possível a continuação da escola e o ensino para estes órfãos que, de outro modo, não teriam possibilidade de ir à escola. Em nome deles deixo aqui, mais uma vez, uma palavra de gratidão. Zikomo kwambiri! Mulungu akudalitseni!








sábado, julho 17, 2010

O Som do Silêncio

Nestes dias estamos a fazer o nosso retiro anual. No início do retiro pergunto-me: o que é que me leva a deixar as minhas actividades normais do dia-a-dia, a minha gente, a casa onde me sinto confortável e partir à procura do silêncio? O retiro é um tempo ideal para descansar a mente e o corpo, renovar o entusiasmo pelo ministério, etc. Tudo isto são razões válidas para o missionário se retirar. Mas o missionário deve sentir este chamamento de Deus a procurar períodos de silêncio, reflexão, meditação e escuta da sua vontade.
No início do retiro, o pregador laçou o mote: vim fazer o retiro para celebrar a presença de Deus na minha vida. Vim para me encontrar com Jesus, comigo mesmo… Vim também para interceder pela minha gente. O retiro deve fazer-me mais disponível para Deus e para a minha gente. O meu tempo no retiro pertence à minha gente que me deu a oportunidade de entrar em silêncio por um período prolongado de tempo.
Normalmente falamos demais e deixamo-nos levar pelo activismo. Vivemos demasiado ocupados a fazer as coisas do Senhor que nos esquecemos, com frequência, do Senhor das coisas. Encontrar tempo para o Senhor das coisas é um desafio contínuo para o missionário, pois há sempre tanto para fazer! Ele é uma escola em construção; ele é uma comunidade que precisa de ser visitada; ele é um grupo de catecúmenos que precisa de instrução; ele é um doente que espera uma visita; ele é um pobre que vem a pedir ajuda; ele é o escritório que precisa de se actualizar e manter em ordem!!!
Em Lilanda, por exemplo, vivo constantemente rodeado de gente! Se quero encontrar um pouco de silêncio, devo fazê-lo nas horas tranquilas da madrugada onde posso encontrar-me com Aquele que me conduz nas tarefas do dia. Aí escuto a voz do silêncio que me dá força para enfrentar com serenidade e dedicação todas as actividades e situações do dia.
O tempo de retiro é uma oportunidade única para renovar o compromisso com a minha vida de oração e dedicação ao serviço da gente que o Senhor me confiou. É o encontro com Deus, o único que pode fazer com que a minha pregação e o meu testemunho não sejam vazios.
Na capela observo os meus confrades! É extraordinário ver um grupo de homens que vivem normalmente a correr freneticamente de um lado para o outro a ajudar as pessoas, rezando agora em silêncio e ‘inactivos’, escutando o Senhor!
Como missionário sou, muitas vezes, tentado a concluir que fui chamado para “fazer”, agir, falar… Ficar em silêncio é ter a ‘coragem de ser’ nas palavras de Paul Tillich. É um acto de fé, pois sou confrontado com muitas perguntas sobre a razão do meu estar aqui, da minha vocação, dos meus compromissos! No silêncio sou confrontado com a minha própria realidade, com a forma como exercito o meu ministério e com a autenticidade da minha vida diária. É ao som do silêncio que eu oiço a voz interior que me convida sempre a uma maior autenticidade e generosidade na minha entrega. É aqui que me encontro verdadeiramente comigo mesmo. Por isso, às vezes sinto-me perturbado pelo silêncio. Estou demasiado habituado a viver e agir no meio do barulho.
No silêncio entro em contacto com a realidade de mim mesmo, do meu interior, daquilo que sou no mais profundo do meu ser e que não se manifesta nas actividades normais do meu dia-a-dia; no silêncio estou em contacto com a realidade crua das minhas limitações. Mas estou também em contacto com o que de melhor existe em mim: a minha fé, a coragem que me vem de Deus e, sobretudo, a certeza de que Deus está sempre lá em tudo o que faço e digo para anunciar a Boa Nova. Ele está lá em todos os momento da minha vida mesmo quando, no barulho dos momentos difíceis, não consigo senti-lo.

sexta-feira, julho 16, 2010

Quinze anos de Sacerdócio

Hoje, 16 de Julho, é o dia do aniversário da minha ordenação sacerdotal. 15 anos ao serviço da missão como sacerdote missionário comboniano. Ao escrever estas palavras quero exprimir a minha gratidão a Deus e a quantos fizeram e fazem parte da minha história. Por isso, quero recordar o apoio incondicional dos meus pais e irmãos e restantes familiares e amigos que, ao longo destes anos todos sempre estiveram ao meu lado e me encorajaram a ser fiel ao meu sacerdócio.
Este é também um momento para fazer memória de algumas outras pessoas e eventos que marcaram a minha vida como sacerdote. Tiveram uma importância fundamental os primeiros três anos logo a seguir à minha ordenação, passados no Sudão do Sul. Tempos difíceis da guerra, foram marcados sobretudo pelo exemplo e entusiasmo missionário de dois homens que me ensinaram a ser missionário e sacerdote. Falo do P. Elvio Chellana, que já se encontra na casa do Pai, e do Ir. Valentino Fabris que foram para mim exemplos de entusiasmo, serviço, fidelidade, entrega e amor à gente que todos procurámos servir. O Ir. Valentino tem agora 88 anos de idade. Um exemplo de fidelidade ao Senhor a quem serviu, quase sempre no Sudão, desde 1949.
As viagens intermináveis de bicicleta pela floresta densa e verde, são algo que eu recordarei sempre como uma experiencia extraordinária da minha vida. Às vezes difíceis por causa da malária que nos visitava frequentemente como amiga fiel, estas viagens faziam-me sentir perto de Deus e da natureza; faziam-me também sentir muito perto da gente, pois quando visitávamos as aldeias ficávamos sempre várias semanas fora, vivendo no meio da gente e adoptando o seu estilo de vida. Foram anos marcados pelo “encontro” com Deus, com aquela gente simples e pobre (os Azande) e comigo próprio. Estes primeiros anos de sacerdócio lançaram os alicerces da minha vida missionária.
Os anos que se seguiram (1998-2005) passei-os em Portugal e foram marcados essencialmente pelo desejo de voltar à missão. E, embora o meu desejo era de poder voltar ao Sudão, os superiores pediram-me para partir para a Zâmbia, onde me encontro presentemente.
Na Zâmbia, tive a oportunidade de trabalhar em Chikowa, uma missão no interior do país, em muitos aspectos semelhante a Nzara, no Sul do Sudão. E, quando estava já a sentir-me ‘em minha própria casa’ foi-me pedido novamente para partir, desta vez para Lilanda, uma paróquia nos arredores de Lusaka. Esta é uma realidade completamente diferente de todas as outras que eu tinha vivido anteriormente.
Lilanda é um lugar muito especial. A vida da comunidade cristã é marcada pela celebração e pela festa que contrastam com a pobreza generalizada característica dos bairros pobres da cidade. Aqui tenho aprendido a celebrar Deus, o Deus do encontro e da vida! Posso dizer que os cristãos de Lilanda me têm ensinado a ser sacerdote sobretudo pela grande capacidade de colocar tudo nas mãos de Deus e de celebrar a fé.
Ser padre para mim tem sido um caminho de contínua descoberta; descoberta de Deus na oração e no ministério que me foi confiado; descoberta dos valores e da fé daqueles que se têm cruzado comigo ao longo da minha vida; descoberta de mim mesmo e dos dons que o Senhor me tem concedido para o exercício da minha vocação missionária. Descoberta do facto de que nunca estive sozinho nesta bonita aventura de servir a gente na simplicidade e na pobreza da minha pessoa. O Senhor esteve sempre lá! Estiveram lá também tanta gente que, com a sua oração e apoio me têm sustentado no caminho.
Tenho certamente encontrado dificuldades! Mas as dificuldades são parte de qualquer vida digna de ser vivida. Hoje não peço a Deus para as remover do meu caminho, mas a força para continua a servi-Lo com generosidade. Por isso termino esta minha partilha recordando as palavras de Brenda Short:
“Não peças para que a carga da tua vida seja leve,
Mas pela coragem de perseverar;
Não peças pela tua realização pessoal em toda a tua vida,
Mas pela paciência na aceitação da frustração;
Não peças por perfeição em tudo o que fazes,
Mas pela sabedoria para não repetir os mesmos erros;
E, finalmente, não peças por mais nada sem antes dizer
‘Obrigado’ pelo que já recebeste”.
Zikomo kwambiri.

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