quinta-feira, outubro 21, 2010

Entrevista à Agência Ecclesia

A Agência Ecclesia publicou hoje, 21 de Outubro, um artigo baseado numa entrevista dada ontem à noite. Pode ajudar a criar uma maior sensibilidade para a realidade missionária e a viver melhor o Dia Missionário Mundial que se aproxima. O próximo Domingo, 24 de Outubro, é uma oportunidade única para cada cristão tomar uma maior consciência da sua vocação missionária. Aconselho a leitura do referido artigo. Para ler o artigo click aqui!

segunda-feira, outubro 18, 2010

Primeiro Congresso Missionário na Zâmbia

Realizou-se em Lusaka, Zâmbia, o primeiro Congresso Missionário subordinado ao tema “Somos todos missionários”. De 13 a 15 de Outubro, o evento reuniu cerca de uma centena de pessoas entre clero diocesano, religiosos, religiosas e leigos.
O P. Moises García, comboniano mexicano, definiu o evento como “um desafio para nós, missionários” pois a Igreja local é cada vez mais chamada a tomar a iniciativa da evangelização; é também “um ponto de partida para a igreja local como igreja missionária”.
Nas palavras de Antony Mkhari, estudante comboniano Sul-africano que participou no evento, esta foi uma oportunidade para a igreja local “alargar os seus horizontes e tornar-se cada vez mais consciente da sua vocação missionária”. Na sua opinião, a igreja na Zâmbia enfrenta vários desafios relacionados com a sua ‘vocação’ evangelizadora. Se, por um lado, a primeira evangelização é uma prioridade absoluta nas zonas rurais, por outro, há um desafio enorme nas cidades, onde assistimos a um êxodo de católicos que facilmente se deixam seduzir por comunidades cristãs evangélicas e pentecostais. É tempo de nos perguntarmos: por que é que isto acontece?
O Congresso foi “um verdadeiro acontecimento do Espírito para a Igreja da Zâmbia”, dizia o P. Carlos Nunes, comboniano português que teve um papel preponderante na organização e realização deste evento. O P. Carlos Nunes é o Director das Obras Missionárias Pontifícias na Arquidiocese de Lusaka desde há 3 anos. Agora ao regressar a Portugal para um novo serviço missionário é um homem visivelmente satisfeito por ter contribuído para uma maior sensibilização da Igreja local em relação à sua vocação missionária, e por ter contribuído activamente para que este evento fosse possível.
Nesta, que foi a primeira iniciativa do género na Zâmbia, foi realçado o valor da oração como parte da missão. A missão deve estar centrada no encontro com a Trindade, isto é, “o Pai que envia o Filho e o Espírito para se manifestarem em nós”, como se pode ler numa das moções finais do Congresso.
É de fundamental importância que, no serviço de evangelização, a Igreja faça uso dos meios modernos de comunicação, uma vez que, sobretudo nas zonas urbanas, o uso destes meios é hoje generalizado.
Os trabalhos do Congresso concluíram com uma peregrinação missionária ao Santuário Mariano da Arquidiocese de Lusaka, com a participação de cerca de 3500 pessoas, entre elas um grande número de crianças da Infância Missionária. Uma iniciativa que deu um brilho especial ao mês de Outubro, mês missionário por excelência.
O evento contou com a presença e participação do P. Timothy Lehane, Secretário-geral das Obras Missionárias Pontifícias em Roma. A sua presença deu maior relevo e visibilidade ao acontecimento. Na sua intervenção, realçou o papel dos institutos religiosos na missão da Igreja.
A realização deste Congresso Missionário foi um passo muito importante na tomada de consciência da Igreja local para a sua vocação missionária. Esperava-se, no entanto, um envolvimento maior das autoridades religiosas locais que, desta vez, se mantiveram um pouco à margem do acontecimento.
Resta-nos esperar que haja continuidade e que os bispos da Zâmbia agarrem a oportunidade de tornar as suas Igrejas mais missionárias.



segunda-feira, outubro 11, 2010

Daniel Comboni

Hoje, 10 de Outubro, celebramos S. Daniel Comboni. Recordamos e celebramos o nosso pai e fundador que continua a sustentar-nos com a sua força e carisma. Nós somos as mil vidas que ele desejou ter para dedicar à salvação dos africanos. Sim, a sua obra não morre!
Também aqui em Lilanda, celebramos esta festa. Comboni é também venerado pelos cristãos da Lilanda, especialmente pelos cristãos da Comunidade de Base que tem o seu nome. Hoje, sentem-se muito orgulhosos do seu santo protector.
A celebração da Eucaristia dominical teve especial solenidade e com o entusiasmo característico da comunidade cristã de paróquia de Lilanda. O canto e a dança, acompanhados com o som dos tambores e das guitarras encheram a celebração de cor e de alegria.

segunda-feira, setembro 13, 2010

Alegria de brincar juntos

É domingo ao fim da tarde. Num canto sossegado da capela da comunidade procuro um pouco de silêncio. O fim-de-semana foi muito ocupado com várias actividades e sobretudo com muita gente. No silêncio do fim da tarde procuro simplesmente parar e deixar-me invadir pela presença de Deus. Procuro colocar nas Suas mãos as pessoas e actividades que ocuparam o meu fim-de-semana e as que, lá longe, de uma forma ou de outra, fazem parte da minha vida e me acompanham com o seu apoio e oração.
Enquanto procuro ficar em silêncio deixo-me distrair pelo cantar de um grilo que, lá fora, me transporta para os dias da minha infância e juventude em que o cantar dos grilos e o chilrear dos pássaros eram a polifonia característica da primavera e do verão.
Passado algum tempo há outras vozes que, pouco a pouco, vão atraindo a minha atenção. São as crianças das famílias vizinhas que brincam alegremente mesmo aqui ao lado. De repente lembrei-me das nossas brincadeiras de criança e jogos tradicionais, sobretudo nos dias longos de verão, que estimulavam a nossa imaginação e criatividade e animavam o entardecer de cada dia. Eram sobretudo oportunidades para criar laços de amizade e de camaradagem entre todos.
É com uma certa saudade que recordo esses tempos! Parece-me que as crianças de hoje têm perdido muito da alegria de brincar umas com as outras. Parece-me, digo! Não havia televisão nem telemóveis! Não havia computadores nem consolas para jogar! Por isso, a imaginação era estimulada de uma maneira extraordinária e dava vida à aldeia. Hoje, na minha aldeia, não se brinca na rua: as crianças brincam com o telemóvel, jogam ao computador, vêem televisão!
Aqui em Lilanda, e noutras paragens africanas por onde tenho passado, as crianças continuam a sentir muitas das ‘carências’ que eram sentidas nos meus tempos de criança. Mas hoje aqui, como então, há algo de maravilhoso que me toca profundamente! Há crianças que continuam a brincar em grupo; inventam jogos novos; constroem os seus próprios brinquedos!
Fala-se que vivemos na era das comunicações! E é verdade: hoje comunica-se muito e a tecnologia torna possível comunicar em tempo real com pessoas a milhares de quilómetros de distância. Mas não comunicamos com a mesma facilidade com os que estão ao nosso lado.
Ao reflectir sobre estas pequenas coisas, constato que a abundância nem sempre torna as pessoas mais humanas. Certamente que ninguém gostaria de voltar aos tempos difíceis de outrora em que muita gente não tinha o essencial para viver uma vida digna! Mas talvez houvesse mais humanidade! As pessoas falavam mais umas com as outras; conviviam mais; eram mais solidárias.
Aqui as pessoas são pobres e nós devemos continuar a lutar para que tenham uma vida mais digna. Mas devemos também continuar a lutar para conservar aqueles valores que nos tornam mais próximos uns dos outros.
Anoiteceu! Mergulhei novamente no silêncio… Chegou a hora da oração da comunidade.

terça-feira, agosto 17, 2010

Cinquenta anos juntos

No sábado, dia 14 de Agosto, celebraram as suas Bodas de Ouro os meus pais Maria de Jesus e José. A celebração teve lugar na Igreja Paroquial de Penude com a presença de todos os seus filhos, genros, noras e netos. Estiveram presente também o P. Adriano, nosso pároco e o P. Avelino Maravilha, missionário comboniano que, no momento, se encontra de férias. O P. Avelino encontra-se actualmente a trabalhar no Chade. Contámos também com a companhia preciosa dos nossos amigos Arlinda, José e Ester de Coimbra.
Quisemos que esta celebração fosse sinal e expressão do reconhecimento e do amor dos filhos por todas as coisas boas que temos recebido dos nossos pais, sobretudo pelo dom da vida que deles recebemos, e pelo apoio incondicional que sempre nos deram em todos os momentos da nossa vida.
Foi o desejo de exprimir tudo isto que motivou a minha vinda da Zâmbia para passar com eles estes curtos momentos. Acredito que a minha vocação é também a vocação dos meus pais que, com muita generosidade, sempre me deixaram partir, embora, muitas vezes, com as lágrimas nos olhos! Por isso quero também exprimir a gratidão por tudo o que eles significam para mim.
Os nossos pais têm sido sempre para nós, seus filhos, sinal de fidelidade e perseverança nas dificuldades. Este pequeno texto é mais uma homenagem que lhes quero prestar. Rezo para que o Senhor continue a abençoá-los e lhes dê muitos anos de vida cheios de coisas boas.

segunda-feira, julho 26, 2010

Festa em Lilanda

No Domingo, 25 de Julho, teve lugar em Lilanda a Festa da Paróquia. A Eucaristia, que teve lugar na Escola Comunitária St. Joseph de Lilanda, contou com a presença de vários milhares de cristãos que celebraram o seu padroeiro S. André Kaggwa (um dos mártires do Uganda) com muita alegria e entusiasmo. A celebração foi marcada pela alegria e pela festa. Numa cerimónia cheia de cor, os cânticos e a dança deram um brilho muito especial à celebração da Eucaristia.
Ao mesmo tempo celebrámos o 10º aniversário da existência da nossa Escola Comunitária que proporciona a possibilidade de ir à escola a mais de 300 crianças órfãs da nossa paróquia. Por isso, as crianças da escola tiveram um lugar especial na celebração.
No final da Eucaristia, teve lugar um momento de confraternização com destaque para as várias actividades culturais e recreativas: canções, danças, poemas, teatros, e muita alegria. Também aqui as crianças da escola e do jardim infantil alegraram toda a gente com a sua actuação.
Esteve connosco o Sr. Pepe Verdugo, médico espanhol, em representação da Fundación Solidaridad Candelaria, que nos ajuda a financiar a nossa Escola de St. Joseph. Foi um momento muito importante para expressar a nossa gratidão à Fundação e ao Sr. Pepe pela ajuda preciosa que nos estão a prestar, tornando assim possível a continuação da escola e o ensino para estes órfãos que, de outro modo, não teriam possibilidade de ir à escola. Em nome deles deixo aqui, mais uma vez, uma palavra de gratidão. Zikomo kwambiri! Mulungu akudalitseni!








sábado, julho 17, 2010

O Som do Silêncio

Nestes dias estamos a fazer o nosso retiro anual. No início do retiro pergunto-me: o que é que me leva a deixar as minhas actividades normais do dia-a-dia, a minha gente, a casa onde me sinto confortável e partir à procura do silêncio? O retiro é um tempo ideal para descansar a mente e o corpo, renovar o entusiasmo pelo ministério, etc. Tudo isto são razões válidas para o missionário se retirar. Mas o missionário deve sentir este chamamento de Deus a procurar períodos de silêncio, reflexão, meditação e escuta da sua vontade.
No início do retiro, o pregador laçou o mote: vim fazer o retiro para celebrar a presença de Deus na minha vida. Vim para me encontrar com Jesus, comigo mesmo… Vim também para interceder pela minha gente. O retiro deve fazer-me mais disponível para Deus e para a minha gente. O meu tempo no retiro pertence à minha gente que me deu a oportunidade de entrar em silêncio por um período prolongado de tempo.
Normalmente falamos demais e deixamo-nos levar pelo activismo. Vivemos demasiado ocupados a fazer as coisas do Senhor que nos esquecemos, com frequência, do Senhor das coisas. Encontrar tempo para o Senhor das coisas é um desafio contínuo para o missionário, pois há sempre tanto para fazer! Ele é uma escola em construção; ele é uma comunidade que precisa de ser visitada; ele é um grupo de catecúmenos que precisa de instrução; ele é um doente que espera uma visita; ele é um pobre que vem a pedir ajuda; ele é o escritório que precisa de se actualizar e manter em ordem!!!
Em Lilanda, por exemplo, vivo constantemente rodeado de gente! Se quero encontrar um pouco de silêncio, devo fazê-lo nas horas tranquilas da madrugada onde posso encontrar-me com Aquele que me conduz nas tarefas do dia. Aí escuto a voz do silêncio que me dá força para enfrentar com serenidade e dedicação todas as actividades e situações do dia.
O tempo de retiro é uma oportunidade única para renovar o compromisso com a minha vida de oração e dedicação ao serviço da gente que o Senhor me confiou. É o encontro com Deus, o único que pode fazer com que a minha pregação e o meu testemunho não sejam vazios.
Na capela observo os meus confrades! É extraordinário ver um grupo de homens que vivem normalmente a correr freneticamente de um lado para o outro a ajudar as pessoas, rezando agora em silêncio e ‘inactivos’, escutando o Senhor!
Como missionário sou, muitas vezes, tentado a concluir que fui chamado para “fazer”, agir, falar… Ficar em silêncio é ter a ‘coragem de ser’ nas palavras de Paul Tillich. É um acto de fé, pois sou confrontado com muitas perguntas sobre a razão do meu estar aqui, da minha vocação, dos meus compromissos! No silêncio sou confrontado com a minha própria realidade, com a forma como exercito o meu ministério e com a autenticidade da minha vida diária. É ao som do silêncio que eu oiço a voz interior que me convida sempre a uma maior autenticidade e generosidade na minha entrega. É aqui que me encontro verdadeiramente comigo mesmo. Por isso, às vezes sinto-me perturbado pelo silêncio. Estou demasiado habituado a viver e agir no meio do barulho.
No silêncio entro em contacto com a realidade de mim mesmo, do meu interior, daquilo que sou no mais profundo do meu ser e que não se manifesta nas actividades normais do meu dia-a-dia; no silêncio estou em contacto com a realidade crua das minhas limitações. Mas estou também em contacto com o que de melhor existe em mim: a minha fé, a coragem que me vem de Deus e, sobretudo, a certeza de que Deus está sempre lá em tudo o que faço e digo para anunciar a Boa Nova. Ele está lá em todos os momento da minha vida mesmo quando, no barulho dos momentos difíceis, não consigo senti-lo.

sexta-feira, julho 16, 2010

Quinze anos de Sacerdócio

Hoje, 16 de Julho, é o dia do aniversário da minha ordenação sacerdotal. 15 anos ao serviço da missão como sacerdote missionário comboniano. Ao escrever estas palavras quero exprimir a minha gratidão a Deus e a quantos fizeram e fazem parte da minha história. Por isso, quero recordar o apoio incondicional dos meus pais e irmãos e restantes familiares e amigos que, ao longo destes anos todos sempre estiveram ao meu lado e me encorajaram a ser fiel ao meu sacerdócio.
Este é também um momento para fazer memória de algumas outras pessoas e eventos que marcaram a minha vida como sacerdote. Tiveram uma importância fundamental os primeiros três anos logo a seguir à minha ordenação, passados no Sudão do Sul. Tempos difíceis da guerra, foram marcados sobretudo pelo exemplo e entusiasmo missionário de dois homens que me ensinaram a ser missionário e sacerdote. Falo do P. Elvio Chellana, que já se encontra na casa do Pai, e do Ir. Valentino Fabris que foram para mim exemplos de entusiasmo, serviço, fidelidade, entrega e amor à gente que todos procurámos servir. O Ir. Valentino tem agora 88 anos de idade. Um exemplo de fidelidade ao Senhor a quem serviu, quase sempre no Sudão, desde 1949.
As viagens intermináveis de bicicleta pela floresta densa e verde, são algo que eu recordarei sempre como uma experiencia extraordinária da minha vida. Às vezes difíceis por causa da malária que nos visitava frequentemente como amiga fiel, estas viagens faziam-me sentir perto de Deus e da natureza; faziam-me também sentir muito perto da gente, pois quando visitávamos as aldeias ficávamos sempre várias semanas fora, vivendo no meio da gente e adoptando o seu estilo de vida. Foram anos marcados pelo “encontro” com Deus, com aquela gente simples e pobre (os Azande) e comigo próprio. Estes primeiros anos de sacerdócio lançaram os alicerces da minha vida missionária.
Os anos que se seguiram (1998-2005) passei-os em Portugal e foram marcados essencialmente pelo desejo de voltar à missão. E, embora o meu desejo era de poder voltar ao Sudão, os superiores pediram-me para partir para a Zâmbia, onde me encontro presentemente.
Na Zâmbia, tive a oportunidade de trabalhar em Chikowa, uma missão no interior do país, em muitos aspectos semelhante a Nzara, no Sul do Sudão. E, quando estava já a sentir-me ‘em minha própria casa’ foi-me pedido novamente para partir, desta vez para Lilanda, uma paróquia nos arredores de Lusaka. Esta é uma realidade completamente diferente de todas as outras que eu tinha vivido anteriormente.
Lilanda é um lugar muito especial. A vida da comunidade cristã é marcada pela celebração e pela festa que contrastam com a pobreza generalizada característica dos bairros pobres da cidade. Aqui tenho aprendido a celebrar Deus, o Deus do encontro e da vida! Posso dizer que os cristãos de Lilanda me têm ensinado a ser sacerdote sobretudo pela grande capacidade de colocar tudo nas mãos de Deus e de celebrar a fé.
Ser padre para mim tem sido um caminho de contínua descoberta; descoberta de Deus na oração e no ministério que me foi confiado; descoberta dos valores e da fé daqueles que se têm cruzado comigo ao longo da minha vida; descoberta de mim mesmo e dos dons que o Senhor me tem concedido para o exercício da minha vocação missionária. Descoberta do facto de que nunca estive sozinho nesta bonita aventura de servir a gente na simplicidade e na pobreza da minha pessoa. O Senhor esteve sempre lá! Estiveram lá também tanta gente que, com a sua oração e apoio me têm sustentado no caminho.
Tenho certamente encontrado dificuldades! Mas as dificuldades são parte de qualquer vida digna de ser vivida. Hoje não peço a Deus para as remover do meu caminho, mas a força para continua a servi-Lo com generosidade. Por isso termino esta minha partilha recordando as palavras de Brenda Short:
“Não peças para que a carga da tua vida seja leve,
Mas pela coragem de perseverar;
Não peças pela tua realização pessoal em toda a tua vida,
Mas pela paciência na aceitação da frustração;
Não peças por perfeição em tudo o que fazes,
Mas pela sabedoria para não repetir os mesmos erros;
E, finalmente, não peças por mais nada sem antes dizer
‘Obrigado’ pelo que já recebeste”.
Zikomo kwambiri.

domingo, junho 27, 2010

O Ghana carrega as esperanças do Continente Africano

Mark Gleeson
27 June 2010
Kevin Prince Boateng marca o primeiro golo do Ghana ©Sydney Mahlangu/Backpagepix

Rustenburg – O Ghana tornou-se na terceira equipa Africana na história do Campeonato do Mundo a chegar aos quartos de final com uma vitória dramática de 2-1, no tempo complementar, contra os Estados Unidos no Royal Bafokeng Sports Palace em Rustenburg, no Sábado.
Um pontapé estonteante de Asamoah Gyan arrumou a partida a favor dos Black Stars, mitigando a enorme pressão e dando um impulso enorme ao continente.
O Ghana carregava as esperanças africanas após um desempenho sombrio no torneio na África do Sul pelos outros cinco representantes do continente.
Mas o treinador Milovan Rajevac disse que deixaram todas as pressões para trás quando entraram em campo contra os americanos que entraram confiantes.
O golo de Kevin-Prince, aos cinco minutos, colocou o Ghana em vantagem muito cedo, mas os americanos deram luta, depois de uma primeira parte a meio gás, empatando ao passar dos 60 minutos com a transformação da grande penalidade por Donovan.
Boateng roubou a bola a Ricardo Clark no meio campo e correu disparando para a baliza de fora da área num início perfeito para os Black Stars.
Poderiam ter marcado um segundo golo aos 37 minutos, mas uma defesa do guarda redes Tim Howard negou o golo a Kwadwo Asamoah.
Do outro lado, defesas extraordinárias do guarda redes Richard Kingson mantiveram a vantagem do Ghana intacta contra os americanos que foram lentos na primeira parte enquanto o Ghana dominava o jogo.
Mas eles tiveram as suas oportunidades. Kingson defendeu um remate de Robbie Findley com as pernas a 10 minutos do intervalo e fez uma defesa com uma mão negando o golo ao substituto Benny Feilhaber no início do segundo tempo.
Mas as coisas pareciam estar a virar-se ao contrário para as esperanças do Ghana quando o jovem defesa Jonathan Mensah, aos 62 minutos, proporcionou uma grande penalidade ao derrubar Clint Dempsey.
Donavan disparou para dentro da baliza dando aos americanos um empate justo; de repente encontraram as reservas de energia para encenarem uma das suas habituais corridas no segundo tempo.
O vencedor apareceu do céu num remate longo quando Gyan com um pontapé esquerdino deslumbrante assegurou o encontro com o Uruguai na próxima sexta-feira na Soccer City de Joanesburgo.

sábado, junho 26, 2010

Chimwemwe volta à Escola

Chimwemwe entrou no meu escritório com as lágrimas nos olhos. “Anandipisha ku sukulu”, disse entre soluços. Ao olhá-la nos olhos veio-me à mente o sofrimento de tantas outras crianças órfãs de Lilanda que são constantemente expulsas da escola por não pagarem as propinas. O seu futuro, esse está definitivamente comprometido.
Em Lilanda, como em tantos outros bairros pobres da periferia de Lusaka, há milhares de crianças órfãs que vivem com os avós ou outros familiares. É frequente encontrar uma velhinha com seis ou sete netos órfãos! Como se pode imaginar, encontrar comida e medicamentos quando adoecem, é só por si um pesadelo para estas famílias. O acesso ao ensino torna-se quase impossível para muitas destas crianças. O resultado é que muitas destas crianças não têm a possibilidade de ir à escola e, por isso passam o seu tempo nas ruas sem nada para fazer.
Estou a lembrar-me da senhora Serafina que vive com o seu marido, ambos de idade avançada e que têm ao seu cuidado seis netos, todos eles órfãos. Vivem das ajudas dos vizinhos e dos cristãos da Comunidade Eclesial de Base à qual pertencem. Quando a visitei, há já alguns dias, encontrei-a à porta da sua casita, à sombra de uma mangueira fugindo ao calor escaldante que se fazia sentir. As crianças, brincando, pareciam não ter notado a minha chegada. Foi então que a avó as chamou: “Abambo abwera; apatseni moni!” (Chegou o senhor padre, venham cumprimentá-lo). Foi então que desabafou, tal como Chimwemwe, com as lágrimas nos olhos: “anthu amatithandiza kwambiri pakutipatsa unga, koma sukulu, abambo… sukulu imativuta!” (As pessoas vão-nos ajudando com farinha, mas a escola, padre… a escola é que é o problema!). Como esta família há muitas outras no bairro.
Na nossa Escola Comunitária de S. José, ajudamos cerca de 350 crianças, a maior parte das quais são órfãs e extremamente pobres. Mas a nossa escola é só uma pequena ajuda no mar de necessidades de tantas crianças que não têm a possibilidade de ir à escola. Dois dos meninos da senhora Serafina vão à nossa escola; os mais crescidos têm mais dificuldade, pois a nossa escola é só até ao sétimo ano.
Em Lilanda há muitas outras escolas comunitárias que procuram preencher a lacuna deixada pelo governo que é incapaz de responder às necessidades das populações, sobretudo no que diz respeito à saúde e ao ensino. O resultado é a descriminação que deixa de fora os mais vulneráveis.
O que sempre me impressiona é a enorme vontade que estas crianças têm de ir à escola. Algo que eu nunca vi em Portugal. Procuram todos os meios para o conseguirem e vêm com frequência bater às portas da paróquia. Claro que é impossível ajudar a todos, mas alguns sempre encontram uma resposta, graças à ajuda preciosa de tantos amigos de boa vontade que são generosos na sua partilha com os mais desfavorecidos.
Chimwemwe conseguiu voltar à escola! Os dois meninos da senhora Serafina, também vão à escola. Tantas outras vivem nesta situação de constante incerteza em relação ao seu futuro por não terem ninguém que as ajude! As que o conseguem vêem o seu futuro com um pouco mais de esperança.

Nota: Esta é a história de muitas crianças e famílias de Lilanda. Por isso, “Chimewmwe” e “Serafina” são nomes fictícios.

quarta-feira, junho 23, 2010

Nova Constituição para a Zâmbia

A Comissão Constitucional Nacional (NCC na sua sigla inglesa) divulgou hoje, 22 de Junho, o esboço da tão esperada nova Constituição para que seja sujeito a debate público, noticiou o The Post online. Na apresentação do documento, o presidente da Comissão, Chifumu Banda, fez o convite aos cidadãos para lerem o documento, defendendo que só um debate público sério sobre o mesmo pode melhorar a governação do país. Os cidadãos têm agora 40 dias para comentar o documento.
“A governação desta nação não melhorará por causa das querelas que existem entre nós; melhorará se as nossas instituições forem relevantes e efectivas; e isto só pode ser feito através da Constituição… e pelas leis que dela derivam”, disse Banda.
Ainda segundo o The Post, o documento estará disponível nos três sítios do Secretariado da Governação, uma instituição que faz parte do Ministério da Justiça (http://www.governance.gov.zm/; http://www.parliament.gov.zm/; http://www.ncczambia.org/).
Um particular importante é que, embora o documento não seja traduzido nas línguas locais por falta de fundos, foi já traduzido em Braille.
Alguns artigos que tinham sido propostos para a nova Constituição não fora incluídos, nomeadamente “a rejeição da eleição de um Vice-presidente, a introdução de uma licenciatura como uma das qualificações para candidatos presidenciais, e a recusa da necessidade do sistema de voto 50% mais 1 para a eleição do Presidente”, acrescentou Banda.

terça-feira, junho 22, 2010

Sul do Sudão tem Novo Governo

Drª Anne Itto, Ministra designada para as Cooperativas e Desenvolvimento Rural © JVieira

O Presidente do Sul do Sudão, Salva Kiir Mayardit, anunciou ontem o seu novo governo.
O novo elenco governamental conta com 32 ministros, mais oito que o anterior, e inclui sete mulheres e quatro membros da oposição e uma ministra sem pasta.
Os novos ministérios são Paz e Implementação do Acordo Global de Paz; Investimento; Assuntos Humanitários e Gestão de Catástrofes; Desenvolvimento de Recursos Humanos (desmembrado do Mistério do Trabalho e Serviço Público); Educação Superior, Investigação, Ciência e Tecnologia (que fazia parte da pasta da Educação); Cultura e Património (que estava com o Ministério da Juventude e dos Desportos).
Os ministérios-chave dos Assuntos Internos, Exército com o portfólio dos Veteranos, Finanças e Plano, Trabalho e Serviço Público, Agricultura e Género, Criança e Bem-estar Social continuaram nas mesmas mãos.
Algumas curiosidades: os Assuntos Religiosos desapareceram da pasta do Género e do Bem-estar Social; três ministros vieram do Governo de Unidade Nacional após a remodelação deste.
Salva Kiir premiou o bom desempenho dos oficiais do partido durante as eleições promovendo o secretário-geral e a secretária-geral adjunta para o sector do sul a ministros.
Kiir prometeu entregar 30 por cento dos cargos políticos a mulheres mas neste governo ficou aquém da fasquia. As sete mulheres representam cerca de 21 por cento.
Hoje a secretária-geral adjunta para o sector do sul e ministra das cooperativas e desenvolvimento rural disse à imprensa que o novo governo é o gabinete do referendo.
Anne Itto explicou que o executivo tem cinco prioridades: referendo, boa governação, segurança. Segurança alimentar e eficiência administrativa.
Os novos ministros devem tomar posse amanhã.

quarta-feira, junho 16, 2010

Amigo

            Jesus é meu amigo!
            Que no medo e no perigo
            Me acompanha.
            Está sempre comigo!

                              Às vezes parece que está longe
                              E eu sinto-me abandonado.
                              Mas logo a seguir
                              Sinto sua presença.

           Ele vem comigo,
           Me acompanha, embora escondido.
           E quando o perigo vem
           E se acerca de mim,
           Ele deita-me a mão
           E me sustém.

                               E eu fico reconhecido
                               Porque o meu amigo,
                               Num gesto de amizade profundo
                               Me diz, ‘não tenhas medo,
                               Eu venci o mundo!’.

segunda-feira, junho 14, 2010

Ele veio ao meu encontro

O meu nome é Zaqueu. Creio que me conhecem bem, mas há muita coisa na minha vida que eu tenho guardado só para mim. Sabem, aquele dia com Jesus foi a coisa mais extraordinária que aconteceu na minha vida! Eu era mesmo um safado! Desde jovem que só me preocupava comigo mesmo e fazia tudo para obter o que eu queria, mesmo que tivesse que passar por cima dos outros.
Cobrador de impostos foi a minha profissão de sempre. Ganhava muito dinheiro. Quer dizer, não era bem ganhar, entendem? Nunca me faltou nada na vida. Quer dizer, nunca me faltou dinheiro e tudo o que podia ser obtido através dele. Tinha uma casa bonita, não faltava nada aos meus filhos. Mas bem depressa comecei a ser desprezado pelos outros. E não eram só os estranhos que me desprezavam; eram os vizinhos, os que tinham sido meus amigos e até alguns familiares.
As coisas começaram a complicar-se muito na minha vida. Muitas vezes vinham manifestar-se à minha porta e até chegaram a atirar pedras às janelas. Tudo isso doía muito, pois começaram a atacar também a minha família. Com tudo isto, comecei a viver muito inquieto!
Um dia ouvi falar de um certo Jesus. Eram um homem estranho, diziam. Andava sempre na companhia de pessoas que ninguém queria por perto. Ao ouvir falar dele, comecei a sentir um desejo grande de o conhecer e tentei várias vezes encontrar-me com ele, mas foi muito difícil! Havia sempre alguém que me impedia de chegar até ele. Mas o desejo de o conhecer crescia cada vez mais dentro de mim.
Um dia ouvi dizer que ele estava para passar lá, na rua onde eu trabalhava. Vi muita gente que se aproximava e pensei logo que fosse ele, pois havia sempre muita gente atrás dele. Embora eu tivesse perdido a esperança de chegar perto dele, pelos menos decidi vê-lo nem que fosse de longe. Então subi a uma árvore; coisa que só os miúdos fazem, mas eu não me importei. Trepei a uma árvore e consegui vê-lo de longe. Mas, para minha surpresa, Jesus viu-me e chamou-me! Eu acho que muita gente ficou surpreendida tal como eu. Eu não cabia em mim de contente!
O que se passou a seguir vocês já o sabem. O que não sabem é que aquele encontro com Jesus virou a minha vida do avesso. Só de imaginar que Jesus tinha a coragem de vir a minha casa fez-me acelerar o coração!
Naquele dia chorei. Jesus sabia muito bem com quem se tinha metido. Mas nunca me dirigiu uma palavra de recriminação nem me julgou pelos meus disparates. Muitos dos pobres que eu tinha explorado estavam ali, juntamente com Jesus, em minha casa! Ao ver essa gente, o meu corpo tremia. Comecei a perceber como eu os tinha magoado tanto! Mas nenhum deles me acusou de nada! Pareciam estar contentes por estar comigo.
Agora, enquanto conto a minha história, as lágrimas correm-me no rosto; lágrimas de alegria, claro! Sei que muitos de vocês que estão a ler a minha história, mesmo sem serem cobradores de impostos, têm sentido a condenação dos outros por causa dos vossos disparates. Mesmo aquele a quem pedi para escrever estas palavras… Ele partilhou comigo que sente muita simpatia para comigo. Não sei se é por causa da sua estatura ou pelos disparates… Mas sabem, ele disse-me que (isto é segredo!) também ele se encontrou um dia com Jesus! E que Jesus nunca o acusou de nada! Tenho quase a certeza de que também vocês têm experimentado o que significa ser acolhido e amado apesar de todos os disparates.
Mas, voltando à minha história. Nunca pensei que algum dia pudesse chegar tão perto de Jesus. E quando todos tentaram manter-me longe dele, ele veio ao meu encontro. E isso fez toda a diferença.

domingo, junho 13, 2010

Mundial ao Contrário

Este apelo foi traduzido do sítio das Missionárias Combonianas Combonifem. É um apelo enviado à embaixadora da Africa do Sul na Itália, tendo como primeiro assinante o P. Alex Zanotelli, missionário comboniano, a favor dos pobres na África do Sul e dos movimentos que procuram defender os seus direitos. A campanha pretende recolher o maior número possível de assinaturas até ao dia 20 de Junho.

Sua Excelência, Embaixadora Thenjiwe Mtintso, somos associações, movimentos de base, cidadãos particulares. Todos carregamos no coração a história da África do Sul, a grande luta dos movimentos de libertação que aí se desenvolveram nas últimas décadas e o destino das populações oprimidas que foram protagonistas dessas lutas. Consideramos que é fundamental para a construção da nova África do Sul a promoção dos direitos e do papel social e político dos pobres.
Estamos particularmente preocupados com o tratamento dado aos habitantes dos bairros de lata e dos vendedores de rua por ocasião do Campeonato do mundo de Futebol. Os habitantes dos bairros de lata são despejados à força de suas casas e obrigados a viver em “transit camps”, enquanto aos vendedores de rua foi proibido vender as suas mercadorias enquanto durar o Campeonato do mundo. Aos pobres não lhes foi concedida a possibilidade de participar na construção de um percurso comum que conduzisse ao Campeonato do mundo. Ao contrário o Campeonato do mundo tornou-se numa oportunidade para reestruturar as cidades segundo critérios que favorecem somente a elite. Os pobres são atirados fora, longe dos olhos dos turistas e dos jornalistas. Por outro lado, as medidas de segurança adoptadas nos Mundiais limitam fortemente o direito que os cidadãos têm de exprimir democraticamente a dissidência em relação a este estado de coisas.
O movimento de base Abahlali base Mjondolo, construindo todos os dias uma democracia real, directa e participada, tem procurado opor-se a tudo isto desde há anos e luta pelo resgate dos mais pobres, pelo direito à terra, a casa, aos serviços básicos e a uma existência digna. Nós partilhamos das lutas deste extraordinário movimento e estamos do seu lado.
O movimento tem sido objecto de acções de repressão e de ataques violentos, o mais grave dos quais em Setembro de 2009 na ocupação espontânea da Kennedy Road em Durban, por dezenas de pessoas armadas, e que causou alguns mortos, a destruição de casas e bens de membros da Abahlali e a fuga de muitos deles para escaparem à violência. Apesar disso, detiveram 13 pessoas de entre as vítimas do ataque. Abahlali base Mjondolo e muitos observadores entre os quais alguns líderes religiosos, associações, ONG’s, académicos e simples cidadãos denunciando o papel ambíguo desenvolvido pela polícia local e pelos dirigentes locais do Anfrican National Congress (ANC). Estes últimos declararam à imprensa que a ocupação da Kennedy Road tinha sido “dispersada”.
No dia 31 de Maio, uma delegação de Abahlali, que se encontrava na Itália no decurso da campanha Mundial ao contrário (Mondiale al contrario), foi recebida na embaixada sul-africana em Roma. Durante o encontro foi pedido que a sua embaixada se fizesse porta-voz das exigências do movimento diante do governo sul-africano. Também nós fazemos nossas as exigências de Abahlali base Mjondolo e, por seu intermédio, pedimos às autoridades sul-africanas:
• Que o presidente Jacob Zuma responda ao memorando apresentado pela Abahlali base Mjondolo no dia 22 de Março 2010;
• Que os “transit camps” sejam abolidos e que os pobres possam ter pleno direito a viver na cidade;
• Que seja instituída uma comissão credível e independente para investigar os eventos ocorridos na Kennedy Road em Setembro de 2009;
• Que sejam imediatamente postos em liberdade Khaliphile Jali, Stutu Koyi, Zandisile Ngutshana, Siyabulela Mambi e Samukeliso Mkhokhelwa, as cinco pessoas ainda detidas injustamente em Westville no seguimento do ataque a Kennedy Road e ainda não informadas, 9 meses depois, sobre as motivações da sua detenção;
• Que as autoridades sul-africanas nacionais e locais se empenhem e garantam o pluralismo político e o direito de associação e de expressão da dissidência em todas as ocupações informais assim como nas cidades interessadas nas manifestações desportivas do Campeonato do mundo.
Certos de que quererá dar ao nosso apelo o peso que merece, apresentamos-lhe saudações especiais.
Pode-se enviar, até 20 de Junho, a adesão própria para carta@carta.org  com assunto “Adesione appelo Sudafrica”, indicando nome e sobrenome, cidade, eventual qualificação profissional e/ou organização à qual pertence. O número e os nomes dos aderentes serão apresentados nas páginas Web de Carta. Será transmitido regularmente à Embaixada da África do Sul um relatório sobre o andamento da recolha de adesões.

quinta-feira, junho 10, 2010

Os macacos que salvaram os peixes

A estação das chuvas naquele ano foi das piores de todos os tempos e o rio transbordou. Havia inundações por todo o lado e os animais fugiam para os montes. As águas corriam tão velozmente que muitos animais se afogaram, excepto os macacos sortudos que usavam a sua agilidade para trepar às árvores. Olhavam para baixo para a superfície das águas onde havia peixes a nadar, saltando na água como se fossem as únicas criaturas que estavam felizes com as inundações destruidoras.
Um dos macacos viu os peixes e gritou para o seu companheiro, “Olha para baixo, meu amigo, olha para aquelas pobres criaturas. Vão-se afogar. Vês como andam aflitos na água?”
“Sim”, disse o outro macaco. “Que pena! Provavelmente atrasaram-se a fugir para os montes; pois parece que não têm pernas. Como é que poderemos salvá-los?”
“Acho que devemos fazer alguma coisa. Vamos para mais perto da inundação onde a água não é muito profunda e podemos ajudá-los a sair da água para fora.”
Se assim o disseram, melhor o fizeram. Começaram a apanhar peixe, embora com muita dificuldade. Um a um, tiraram-nos da água e puseram-nos cuidadosamente em terra seca. Algum tempo depois havia uma quantidade enorme de peixe estendidos na erva, sem se mexer. Um dos macacos disse, “Estás a ver? Estão cansados, estão a dormir para repousaram um pouco. Se não fossemos nós, meu amigo, toda esta pobre gente sem pernas se teria afogado.”
“Tentaram fugir de nós,” disse o outro macaco, “porque não estavam a entender as nossas boas intenções. Mas quando acordarem vão ficar muito agradecidos porque os salvámos.”
(História Tradicional da Tanzânia)


segunda-feira, junho 07, 2010

Jesus saíu à rua

O Calendário Litúrgico da Igreja proporciona momentos de celebração que envolvem os cristãos de forma muito intensa. Nestes momentos, os cristãos sentem-se mais perto de Deus e, até os que normalmente não praticam, aparecem e juntam-se às multidões que exprimem a sua fé de forma mais activa. O dia do Corpo de Deus é um desses momentos. Em toda a Igreja este dia é revestido de um significado particular por ser a celebração da presença de Deus entre nós através da Eucaristia. Em Lilanda esta celebração é particularmente cheia de movimento e de cor. Assim foi ontem, dia do Corpo de Deus aqui em Lilanda.
Depois da celebração da Eucaristia em que a igreja paroquial se tornou pequena para tanta gente, saímos à rua para a procissão do Corpo de Deus. O percurso foi feito, como habitualmente, através de seis das vinte e quatro Comunidades Eclesiais de Base, com paragem obrigatória em cada uma delas. Cada comunidade preparou antecipadamente uma tenda onde acolheram os seus doentes. À passagem, todos parámos uns momentos para rezar pelos doentes e lhes dar a comunhão. Depois, receberam a bênção do Santíssimo. Foi um momento muito intenso para estes doentes. De facto, o Senhor, como nos seus dias da Galileia, vem ao seu encontro e lhes faz sentir que está perto e se preocupa com eles.
Os cânticos de alegria, acompanhados pelo som dos tambores e pelas danças dos participantes, davam vida e exprimiam a alegria e o entusiasmo dos cristãos por poderem exprimir a sua fé também diante dos que não acreditam. Jesus saiu à rua mais uma vez e atraiu as multidões que o acompanharam ou se juntaram para o ver passar.
Os movimentos apostólicos da paróquia, com as suas cores características davam um aspecto festivo à procissão. À multidão de vários milhares de católicos que tomaram parte na procissão, juntaram-se muitas outras pessoas, incluindo não católicos e não cristãos que, movidos pela curiosidade ou por algo mais profundo, enchiam as ruas do bairro. Todos queriam ver o Senhor passar. E aqueles que, por qualquer motivo, não O conseguiam ver, recorriam à estratégia de Zaqueu, para que a multidão não os impedisse.
A Celebração terminou no recinto da paróquia com um momento de silêncio e adoração.

quarta-feira, junho 02, 2010

Governo da Zâmbia ataca a Igreja Católica

O governo da Zâmbia iniciou uma investida contra a Igreja Católica por esta, alegadamente, se ter colocado do lado da oposição na crítica ao governo. Na quarta-feira, 2 de Junho, o jornal diário The Post publicou uma notícia relativa a mais uma entrevista dada pelo arcebispo de Lusaka D. Telesphore George Mpundu que tem estado na vanguarda nas críticas ao governo.
“O arcebispo Mpundu declarou que a Igreja Católica não será intimidada mesmo se ela tem sido considerada como a maior ameaça à busca de poder absoluto por parte do poder político”, afirma o The Post, que é o jornal independente de maior relevo no país.
A polémica criada à volta da Igreja Católica foi reacendida pelo antigo presidente da Zâmbia Frederick Chiluba, quando há cerca de três meses, acusou a Igreja de ter uma agenda política e de querer derrubar o governo. Fez também um ataque pessoal ao arcebispo de Lusaka na tentativa de denegrir o seu bom nome e o bom nome da Igreja.
Desde essa altura, os ataques do governo têm-se repetido e intensificado. Mas a “Igreja não deixará de se colocar do lado dos pobres e dos sem voz,” afirma o arcebispo.
“O ódio contra os católicos tem a sua origem na percepção errada de que o Arcebispo Mpundu tem ambições políticas e que a Igreja Católica tem uma agenda política e quer governar esta nação,” afirma o referido artigo.
Nas palavras do arcebispo, “os líderes da Igreja Católica, juntamente com os fiéis, continuarão a promover a Doutrina Social da Igreja e o bem comum de todos, particularmente dos pobres, dos fracos e dos sem voz. Ela não se deixará intimidar”.
Enviando também as suas críticas aos meios de comunicação social locais, o arcebispo afirmou que eles não “devem ser instrumentos de propaganda dos que exercem o poder”. Os sucessivos governos têm despojado os meios de comunicação da sua independência e liberdade de expressão.

domingo, maio 23, 2010

O Chacal espertalhão

“Auú, auú, auú, meus meninos,” disse Gogo. “Sabem, esperteza é uma coisa muito importante que todas as pessoas devem ter! É que a esperteza ajudou Nogwaja uma vez a sair do caldeirão!”
“O chacal também é um animal muito esperto, não é Gogo?” perguntou o pequeno Sipho, que era muito orgulhoso da sua alcunha Mpungushe (mpoo-ngoo-she = chacal). A verdade é que Gogo lhe tinha dado aquele nome por causa de um grande grito que ele deu quando ainda era bebé. Sipho gostava de se convencer a si próprio de que era tão ágil e rápido como o chacal.
Gogo deu uma gargalhada e, olhando para o miúdo disse: “Sim, meu rapaz! Tens razão! O chacal é um animal muito esperto. Às vezes até é esperto de mais”.
“Lembro-me como ele ajudou Jabu, o pequeno pastor, fazendo com que Bhubesi voltasse a cair na armadilha. Gogo, conta-nos mais uma história sobre o Chacal”, suplicou Sipho. “Sim, Gogo,” pediram em coro os outros netos. “Por favor, conta-nos…”
“Está bem, meus meninos. Mas escutai e aprendei!” Gogo acomodou-se. “Kwsuka sukela…”
Era uma vez um chacal que caminhava apressado por um carreiro estreito entre as rochas. Como de costume, mantinha o seu focinho junto ao chão e farejava. “Nunca se sabe quando terei a minha próxima refeição,” pensava consigo próprio, embora fosse pouco provável que encontrasse algum rato no calor do meio-dia. Mas talvez pudesse apanhar uma lagartixa ou duas.
De repente apercebeu-se de algum barulho à sua frente no carreiro. “Oh! não!” Chacal murmurou parando imediatamente. O senhor Leão vinha a caminhar na sua direcção. Apercebendo-se de que estava demasiado próximo para escapar, Chacal ficou aterrorizado. Já tinha pregado tantas partidas ao grande Bhubesi no passado, que tinha quase a certeza de que o leão iria aproveitar para se vingar. Num instante, Chacal pensou num plano.
“Socorro! Socorro!” gritou o Chacal. Agachou-se, olhando para as rochas acima dele. O Leão parou surpreendido.
“Socorro!” O Chacal uivou, usando o medo que sentia no seu peito para dar ainda mais força ao seu grito. Chacal deu uma olhadela a Bhubesi. “Ó grande Nkosi! Socorro! Não há tempo a perder! Vês aquelas grandes rochas lá em cima! Estão mesmo a cair! Vamos ambos ser esmagados!!! Ó grande Leão, faz qualquer coisa! Salva-nos! Chacal agachou-se ainda mais com medo, cobrindo a sua cabeça com as patas.
O Leão olhou para cima, muito alarmado. Mesmo antes de ele ter oportunidade de começar a pensar, o Chacal começou a implorar-lhe que usasse a sua força para segurar a grande rocha que parecia estar para cair. Então o Leão encostou o seu ombro acastanhado contra a rocha e começou a puxar para cima.
“Oh! muito obrigado, grande Rei!” uivou o Chacal. “Eu vou depressa buscar aquele tronco ali em baixo para colocar debaixo da rocha, e ambos estaremos salvos!”
Num instante, o Chacal desapareceu. O Leão ficou ali sozinho aflito debaixo da rocha firme. O tempo que ele ficou ali, antes de dar conta que este era mais um truque, nunca o saberemos. Mas, uma coisa sabemos: o Chacal continuou a viver divido às suas habilidades.
História tradicional Zulu

quarta-feira, maio 19, 2010

Novos desafios

 Kanyanga é a nova missão confiada aos Missionários Combonianos na Zâmbia. Fica situada no vale do Rio Luangwa, numa zona remota do país, a cerca de 820 km de Lusaka, habitada por gente extremamente pobre. O trabalho missionário aí desenvolvido é essencialmente de primeira evangelização e desenvolvimento social.
Esta missão fora iniciada pelos Padres Brancos em 1954, mas posteriormente abandonada, durante muitos anos, por falta de pessoal. A sua gente em geral e os cristãos em particular, vêem agora, com esperança, o início de uma nova era.
A comunidade comboniana de Kanyanga foi oficialmente aberta no sábado, 1 de Maio e a entrega da missão aos Missionários Combonianos foi feita no dia seguinte. Formam a nova comunidade os padres Rodolfo Coaquira (peruviano) e Rúben Bojorquez (mexicano). O P. Dário Chaves, superior dos Missionários Combonianos no Malawi/Zâmbia, esteve presente na abertura da nova comunidade e na passagem do testemunho.
Em Kanyanga existe também um pequeno hospital dirigido por uma congregação missionária que já se encontrava aí, antes da chegada dos Missionários Combonianos.
“Sabemos que temos muitos desafios pela frente,” dizia-me o P. Rúben, “mas estou muito contente por ter sido enviado para aqui”. De facto, os desafios são enormes, pois não há infra-estruturas, estradas, electricidade, etc. Por isso, sobretudo na estação das chuvas, a actividade missionária é muito limitada. Mas isso não incomoda os dois missionários, que iniciaram já a visita porta a porta aos cerca de sete mil cristãos que formam as comunidades cristãs de Kanyanga.
Apesar de todos os desafios, há sempre muito trabalho que fazer. Mas, “o mais importante,” dizia o P. Rúben, “é gastar o nosso tempo e a nossa vida com esta gente.”
O missionário não pode perder o espírito de aventura que caracteriza o voto de obediência. Partir para situações sempre novas com a convicção de que é aí que o Senhor nos quer. Boa missão para o Rúben e o Rodolfo. Um destes dias, quem sabe, vou juntar-me à comitiva!


segunda-feira, maio 17, 2010

Na paz de Jesus

Quando o senhor Nsofwa me veio chamar para ir visitar Albert Banda que, segundo ele, estava para morrer, partimos imediatamente. Eram três da tarde e fazia muito calor! Ponho o meu boné e pego na mochila. Eram só cerca de quinze minutos a pé para chegar à pequena casa onde Albert vivia com a sua esposa Judith e os seus dois filhos pequenos.
Ao entrar na pequena casa, vi-o deitado, no sofá velho e gasto, muito agitado e repetindo palavras que ninguém podia perceber. Movia-se continuamente e respirava com muita dificuldade! O sofrimento era bem visível no seu rosto. Fiquei em silêncio por alguns momentos. Para dizer a verdade, não sabia que dizer. Percebi que estava para morrer.
Rezámos juntos durante alguns momentos. Mas o silêncio parecia ser a única oração com sentido. Albert continuava muito agitado.
Enquanto rezávamos, os meus olhos percorriam o pequeno quarto, meio escuro, em que nos encontrávamos. A pouca luz que havia, passava por uma pequena janela sem vidros, mesmo junto ao lugar onde Albert se encontrava. Os meus olhos pousaram em Judith, a sua esposa que, sentada no chão, permanecia em silêncio com as lágrimas nos olhos.
Quando lhe peguei nas mãos para o ungir com o óleo dos enfermos, Albert ficou em silêncio. Depois, recebeu a comunhão com muita dificuldade ajudado por um pouco de água que lhe foi dada numa caneca de plástico azul que Rosária, a mãe de Judith, lhe trouxera. Algo extraordinário aconteceu. De repente, Albert parecia ter recuperado uma paz profunda: olhou para mim, começou a respirar normalmente, em silêncio, e ficou sossegado.
“Zikomo abambo” dizia Judith ao despedir-se de mim, “munamletera mtendere wa Yesu.” (Obrigado, padre, trouxeste-lhe a paz de Jesus). Parti com lágrimas nos olhos e um nó na garganta. Albert, Judith e os seus dois filhos pequenos no pensamento. Uma semana depois Albert morria… sereno!
Albert pertencia a uma família de políticos que, nunca quiseram saber dele enquanto esteve doente. Na altura do funeral não deixaram que a comunidade cristã organizasse o funeral religioso, contrário à prática dos crentes, não só aqui na paróquia de Lilanda mas na Zâmbia em geral. Por isso, não deixaram que o corpo viesse à igreja.
Quatro ou cinco dias depois do funeral, Judith, agora viúva, entrou no meu escritório com as lágrimas nos olhos. Os olhos inchados mostravam as consequências de várias noites sem dormir e muitas lágrimas derramadas. Para os crentes, não realizar a vontade de alguém que morre é assunto muito sério. E Albert era um homem de muita fé que, mesmo no pico da sua doença, só com muita dificuldade deixava de vir à igreja. Esperava certamente um funeral cristão!
Depois de me explicar como tinha decorrido o funeral, e como os parentes do marido não quiseram ter nada que ver com a igreja, Judith manifestou o desejo de fazer algo para que o seu marido, e ela também, estivessem em paz com Deus, uma vez que ele manifestara o desejo de ter um funeral cristão.
Então sugeri que celebrássemos a missa por ele e que alguns dos ritos fossem também celebrados. São de particular importância os discursos que se fazem para dar a conhecer a vida do defunto, sobretudo a sua vida cristã. Assim ficou combinado. Celebrámos o seu funeral na igreja mesmo se ele já não estava lá. Judith e os seus dois meninos ficaram contentes e em paz.

terça-feira, maio 04, 2010

O Crocodilo Mágico

Quero que Zikomo seja também um espaço de divulgação da cultura africana. Por isso, inicio aqui a publicação de algumas histórias e provérbios africanos. Algumas destas histórias são traduzidas do site da revista comboniana New People, que é publicada em Nairobi, Quénia. Estas histórias e provérbios contêm uma sabedoria que se está a perder na nossa cultura ocidental. Creio que todos podemos aprender muito da cultura oral africana.


O crocodilo mágico
Era uma vez uma caverna. Estava dividida em duas partes, a parte de cima era seca e a parte de baixo tinha água. Na parte de baixo vivia um crocodilo. O crocodilo não vivia sozinho na caverna, pois havia vários animais que viviam lá. Viviam todos na parte seca da caverna e havia também várias outras criaturas que viviam na parte que estava cheia de água. O crocodilo passava a maior parte do seu tempo na água, mas às vezes saía da caverna para um passeio.
Um certo dia um caçador aproximou-se da caverna à procura de animais. Então viu o crocodilo a descansar ao sol à entrada da caverna. O caçador apontou o seu arco e flecha ao crocodilo, mas ficou imediatamente cego. Quando o caçador deixou cair a sua flecha do arco os seus olhos abriram-se novamente. Então viu o crocodilo rir-se com prazer por causa da esperteza do seu truque.
O caçador não ficou ali muito tempo, mas correu para sua aldeia e contou a toda a gente o que se tinha passado. “Quando apontei a minha flecha ao crocodilo fiquei cego”, disse o caçador. Toda a gente na aldeia ficou muito eufórica e, quase metade dos aldeãos, pegaram nos seus arcos e flechas e correram para a caverna.
“Vamos caçar o crocodilo” gritaram em coro. Quando os aldeãos chegaram perto da caverna viram o crocodilo no mesmo lugar onde o caçador o tinha visto, a descansar ao sol à porta da caverna. Quando começaram a apontar os seus arcos e flechas ao crocodilo, ficaram cegos. “Tirai as vossas flechas dos arcos”, disse o caçador. Quando o fizeram, os olhos dos aldeãos começaram a ver novamente.
“Nenhum homem me pode fazer mal”, gritou o crocodilo, virando-se para os aldeãos. O crocodilo saiu do seu lugar e entrou na caverna onde todos os animais o elogiaram por os ter protegido.
“Viveremos as nossas vidas na nossa aldeia”, disseram os aldeãos ao regressarem a casa desiludidos. “Aquele crocodilo ficará na caverna. Não podemos fazer nada para mudar isto”. Mas alguns jovens não ficaram muito satisfeitos. De vez em quando, um jovem corajoso tentava voltar à caverna determinado a matar o crocodilo, mas nunca o conseguiram.
“Ficai cegos com os vossos arcos e flechas,” disse o crocodilo. Naquele tempo, nem o crocodilo nem os aldeãos tinham alguma vez ouvido falar de espingardas.

segunda-feira, abril 19, 2010

Pior Surto de Cólera dos Últimos Anos em Lusaka

Em Lusaka, a capital da Zâmbia, está a assistir-se ao pior surto de Cólera dos últimos anos. São os Médicos Sem Fronteiras que o afirmam num comunicado à imprensa datado de 12 de Abril de 2010. Segundo esse comunicado, “durante as últimas cinco semanas o número de casos de Cólera subiu dramaticamente acima de 4.500, e mais de 120 pessoas perderam as suas vidas”.

Centros Provisórios de Tratamento
Neste momento, a preocupação dos Médicos Sem Fronteiras é conter a doença. Para isso criaram três centros de tratamento de Cólera (CTC) em Matero, Chawama e Kanyama. O número de casos é, de facto, alarmante. Em colaboração com o Ministério da Saúde da Zâmbia, os Médicos Sem Fronteiras trataram já 4.020 doentes desde o dia 4 de Março.
Nestes centros montaram um número elevado de tendas provisórias para facilitar o internamento e tratamento dos casos que chegam diariamente. “Na semana passada”, diz o mesmo comunicado, “assistimos ao ponto mais alto deste surto com mais de 1.054 internamentos”. Por isso, há agora alguma esperança de que o número de casos comece a diminuir.
Na semana passada fui visitar um desses CTC em Matero, uma vez que é o centro que serve a zona de Lilanda onde me encontro. Uma das responsáveis pelo CTC de Matero disse-me que não estão autorizados a falar nem a deixar ninguém visitar o centro. Depois de conversarmos um pouco, deixou-me fotografar as tendas. Certamente nos dá uma ideia das dimensões da situação e do secretismo que se criou à sua volta.

Necessidade de Água Potável e Instalações Sanitárias
A propagação da Cólera tem a ver com a qualidade da água e dos esgotos. Por isso, os Médicos Sem Fronteiras estão a fazer um grande esforço para fazer chegar água potável às populações das áreas mais pobres da cidade.
Quando falamos de Cólera na Zâmbia, não falamos nada de novo, pois ela é endémica. A situação repete-se ano após ano durante a estação da chuva. Aqui em Lilanda, o número de casos tem sido muito reduzido devido a um projecto de abastecimento de água que o Governo do Japão desenvolveu nesta área em parceria com o Governo da Zâmbia; este projecto proporciona água potável a toda esta área da cidade, abrangendo uma população de mais de 100 mil pessoas.
As zonas mais afectadas pela Cólera (e por outras doenças como a Sida, Tuberculose, etc.) são as zonas pobres da cidade; estas zonas são normalmente abandonadas pelos políticos que só aparecem em tempo de eleições. Talvez um dia o Governo se dê conta que estes são também cidadãos da Zâmbia.

segunda-feira, março 29, 2010

Ele está vivo!

Os eventos daquela madrugada do Primeiro Dia da semana mudaram tudo! A partir de agora nada seria como dantes! O sepulcro ficara vazio. Foi como que uma explosão cujo clarão continua a iluminar as vidas dos que acreditam e cujo calor incendeia os corações dos amigos de Jesus.
A desilusão e o desânimo dão lugar à esperança; o medo dá lugar ao entusiasmo e à coragem; a tristeza dá lugar à alegria; o ódio dá lugar ao perdão; a dúvida dá lugar à certeza; a morte na cruz dá lugar à vida da ressurreição! E os que se tinham escondido, aterrorizados pelos acontecimentos daquela Sexta-feira em Jerusalém, vêm agora para as ruas movidos por uma força que não é sua, mas que os impele e move em todas as direcções!
Continuamos hoje a viver os mesmos acontecimentos na fé! O fogo que ardia nos corações dos amigos de Jesus, continua a arder no meu coração! Talvez não tenha a mesma fé dos que testemunharam tudo desde o início, e às vezes o medo e a dúvida estejam presentes! Mas a alegria desta vida nova que está também em mim, deve irradiar uma esperança que só o Senhor ressuscitado pode dar.
Também eu, como as mulheres que encontraram o Senhor ressuscitado, sou convidado a ir contar aos meus irmãos que Ele está vivo e me precede nos caminhos de Lilanda (a minha Galileia!). Sim, Ele precede-me onde quer que eu vá! E eu sei que Ele está vivo!
Sim, Ele está vivo! Há muitos irmãos que continuam a ser crucificados e para quem a morte parece ter a última palavra! Mas Ele anda por aí! A sua força continua a animar muitos dos seus amigos! Por isso continuamos a acreditar na sua Boa Nova!
Vamos! Contemos aos seus irmãos! Ele está vivo!
Boa Páscoa!

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