segunda-feira, setembro 13, 2010

Alegria de brincar juntos

É domingo ao fim da tarde. Num canto sossegado da capela da comunidade procuro um pouco de silêncio. O fim-de-semana foi muito ocupado com várias actividades e sobretudo com muita gente. No silêncio do fim da tarde procuro simplesmente parar e deixar-me invadir pela presença de Deus. Procuro colocar nas Suas mãos as pessoas e actividades que ocuparam o meu fim-de-semana e as que, lá longe, de uma forma ou de outra, fazem parte da minha vida e me acompanham com o seu apoio e oração.
Enquanto procuro ficar em silêncio deixo-me distrair pelo cantar de um grilo que, lá fora, me transporta para os dias da minha infância e juventude em que o cantar dos grilos e o chilrear dos pássaros eram a polifonia característica da primavera e do verão.
Passado algum tempo há outras vozes que, pouco a pouco, vão atraindo a minha atenção. São as crianças das famílias vizinhas que brincam alegremente mesmo aqui ao lado. De repente lembrei-me das nossas brincadeiras de criança e jogos tradicionais, sobretudo nos dias longos de verão, que estimulavam a nossa imaginação e criatividade e animavam o entardecer de cada dia. Eram sobretudo oportunidades para criar laços de amizade e de camaradagem entre todos.
É com uma certa saudade que recordo esses tempos! Parece-me que as crianças de hoje têm perdido muito da alegria de brincar umas com as outras. Parece-me, digo! Não havia televisão nem telemóveis! Não havia computadores nem consolas para jogar! Por isso, a imaginação era estimulada de uma maneira extraordinária e dava vida à aldeia. Hoje, na minha aldeia, não se brinca na rua: as crianças brincam com o telemóvel, jogam ao computador, vêem televisão!
Aqui em Lilanda, e noutras paragens africanas por onde tenho passado, as crianças continuam a sentir muitas das ‘carências’ que eram sentidas nos meus tempos de criança. Mas hoje aqui, como então, há algo de maravilhoso que me toca profundamente! Há crianças que continuam a brincar em grupo; inventam jogos novos; constroem os seus próprios brinquedos!
Fala-se que vivemos na era das comunicações! E é verdade: hoje comunica-se muito e a tecnologia torna possível comunicar em tempo real com pessoas a milhares de quilómetros de distância. Mas não comunicamos com a mesma facilidade com os que estão ao nosso lado.
Ao reflectir sobre estas pequenas coisas, constato que a abundância nem sempre torna as pessoas mais humanas. Certamente que ninguém gostaria de voltar aos tempos difíceis de outrora em que muita gente não tinha o essencial para viver uma vida digna! Mas talvez houvesse mais humanidade! As pessoas falavam mais umas com as outras; conviviam mais; eram mais solidárias.
Aqui as pessoas são pobres e nós devemos continuar a lutar para que tenham uma vida mais digna. Mas devemos também continuar a lutar para conservar aqueles valores que nos tornam mais próximos uns dos outros.
Anoiteceu! Mergulhei novamente no silêncio… Chegou a hora da oração da comunidade.

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