terça-feira, maio 04, 2010

O Crocodilo Mágico

Quero que Zikomo seja também um espaço de divulgação da cultura africana. Por isso, inicio aqui a publicação de algumas histórias e provérbios africanos. Algumas destas histórias são traduzidas do site da revista comboniana New People, que é publicada em Nairobi, Quénia. Estas histórias e provérbios contêm uma sabedoria que se está a perder na nossa cultura ocidental. Creio que todos podemos aprender muito da cultura oral africana.


O crocodilo mágico
Era uma vez uma caverna. Estava dividida em duas partes, a parte de cima era seca e a parte de baixo tinha água. Na parte de baixo vivia um crocodilo. O crocodilo não vivia sozinho na caverna, pois havia vários animais que viviam lá. Viviam todos na parte seca da caverna e havia também várias outras criaturas que viviam na parte que estava cheia de água. O crocodilo passava a maior parte do seu tempo na água, mas às vezes saía da caverna para um passeio.
Um certo dia um caçador aproximou-se da caverna à procura de animais. Então viu o crocodilo a descansar ao sol à entrada da caverna. O caçador apontou o seu arco e flecha ao crocodilo, mas ficou imediatamente cego. Quando o caçador deixou cair a sua flecha do arco os seus olhos abriram-se novamente. Então viu o crocodilo rir-se com prazer por causa da esperteza do seu truque.
O caçador não ficou ali muito tempo, mas correu para sua aldeia e contou a toda a gente o que se tinha passado. “Quando apontei a minha flecha ao crocodilo fiquei cego”, disse o caçador. Toda a gente na aldeia ficou muito eufórica e, quase metade dos aldeãos, pegaram nos seus arcos e flechas e correram para a caverna.
“Vamos caçar o crocodilo” gritaram em coro. Quando os aldeãos chegaram perto da caverna viram o crocodilo no mesmo lugar onde o caçador o tinha visto, a descansar ao sol à porta da caverna. Quando começaram a apontar os seus arcos e flechas ao crocodilo, ficaram cegos. “Tirai as vossas flechas dos arcos”, disse o caçador. Quando o fizeram, os olhos dos aldeãos começaram a ver novamente.
“Nenhum homem me pode fazer mal”, gritou o crocodilo, virando-se para os aldeãos. O crocodilo saiu do seu lugar e entrou na caverna onde todos os animais o elogiaram por os ter protegido.
“Viveremos as nossas vidas na nossa aldeia”, disseram os aldeãos ao regressarem a casa desiludidos. “Aquele crocodilo ficará na caverna. Não podemos fazer nada para mudar isto”. Mas alguns jovens não ficaram muito satisfeitos. De vez em quando, um jovem corajoso tentava voltar à caverna determinado a matar o crocodilo, mas nunca o conseguiram.
“Ficai cegos com os vossos arcos e flechas,” disse o crocodilo. Naquele tempo, nem o crocodilo nem os aldeãos tinham alguma vez ouvido falar de espingardas.

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