A aldeia de Nabaguu, na missão de Nzara no Sul do Sudão, fica a 50 quilómetros da missão, no coração da floresta. A viagem até lá é longa e cansativa. Depois de alguns quilómetros no caminho principal, iniciámos a nossa entrada na floresta por um carreiro estreito e que parecia não ter fim. O calor era muito intenso e a humidade via-se no ar. Depois de várias horas a pedalar por entre árvores enormes e de folhagem exuberante e verde, chegámos.
À nossa chegada encontrámos uma pequena comunidade de cristãos que nos acolheram com uma alegria e entusiasmo que me emocionaram. Sentia-me exausto da longa viagem. Mas a alegria destes cristãos, que já não viam o padre havia três anos, fez-me superar a fadiga e imediatamente os segui até ao lugar que tinham nos preparado para descansar. A alegria que aqueles cristãos simples e pobres expressavam por terem a oportunidade de celebrar a Euca
ristia (a primeira vez em três anos!) era, para mim, estímulo e fonte de inspiração.
Apesar de viverem tão longe da missão, e de terem a visita to missionário tão raramente, estes cristãos continuavam a reunir-se todos os domingos para rezar e partilhar a Palavra de Deus, ajudados pelo seu catequista, Lino Mingerevuru; sinal de que o Espírito do Senhor estava aí onde eles vivem e partilham a sua fé. Aparentemente, estes cristãos vivem “perdidos” na floresta, longe de tudo e de todos; mas no meio deles encontrei sinais maravilhosos da presença do Espírito do Senhor que, ontem como hoje, continua a revelar-se nos simples e nos humildes desta terra. Com Jesus, regozijei-me no Espírito e vi com os meus próprios olhos sinais (muitos sinais!), de como Deus se revela nos pobres.
Enquanto preparávamos o programa para o dia seguinte, apresentaram-me Geanmarie Kerekpiogbe (o significado do sobrenome é: “muito-má-morte”) que pedia para ser baptizado. Carregava sempre tudo o que possuía: uma pequena panela, um cobertor e a bengala que o ajudava a caminhar na sua velhice. “Não posso deixar as minhas coisas em casa” disse com resignação. “É que na volta posso não encontrar nada!”, acrescentou.
O encontro com este ancião abriu-me os olhos para a realidade dos pobres e humildes na sua relação com Deus. Enquanto a minha preocupação era se ele sabia o catecismo, ou se sabia rezar, ele surpreendeu-me com estas palavras, que só podem brotar do coração de alguém a quem o Senhor se revela pessoalmente: “Barani, rogo gi sende re mi adu ni boro rungo; mi naida ka zio batisimo ka bata be rungo ariyo.” (Padre, fui um pobre nesta terra; quero ser baptizado para me salvar da pobreza no Céu).
Fiquei sem palavras. A fé deste ancião ajudou-me a perceber que Deus não se preocupa se sabemos ou não as leis, ou se sabemos ou não dizer umas orações. Ajudou-me também a encontrar Deus no encontro com o pobre; aí, onde o pobre vive, Deus vive também. O encontro com o velho Geanmarie, como tantos outros encontros que vou tendo todos os dias, ajudou-me a perceber que Deus se revela nos pobres e humildes, que por sua vez nos revelam ‘coisas’ que ‘os sábios e os inteligentes’ tem dificuldade em entender.
À nossa chegada encontrámos uma pequena comunidade de cristãos que nos acolheram com uma alegria e entusiasmo que me emocionaram. Sentia-me exausto da longa viagem. Mas a alegria destes cristãos, que já não viam o padre havia três anos, fez-me superar a fadiga e imediatamente os segui até ao lugar que tinham nos preparado para descansar. A alegria que aqueles cristãos simples e pobres expressavam por terem a oportunidade de celebrar a Euca
Apesar de viverem tão longe da missão, e de terem a visita to missionário tão raramente, estes cristãos continuavam a reunir-se todos os domingos para rezar e partilhar a Palavra de Deus, ajudados pelo seu catequista, Lino Mingerevuru; sinal de que o Espírito do Senhor estava aí onde eles vivem e partilham a sua fé. Aparentemente, estes cristãos vivem “perdidos” na floresta, longe de tudo e de todos; mas no meio deles encontrei sinais maravilhosos da presença do Espírito do Senhor que, ontem como hoje, continua a revelar-se nos simples e nos humildes desta terra. Com Jesus, regozijei-me no Espírito e vi com os meus próprios olhos sinais (muitos sinais!), de como Deus se revela nos pobres.
Enquanto preparávamos o programa para o dia seguinte, apresentaram-me Geanmarie Kerekpiogbe (o significado do sobrenome é: “muito-má-morte”) que pedia para ser baptizado. Carregava sempre tudo o que possuía: uma pequena panela, um cobertor e a bengala que o ajudava a caminhar na sua velhice. “Não posso deixar as minhas coisas em casa” disse com resignação. “É que na volta posso não encontrar nada!”, acrescentou.
O encontro com este ancião abriu-me os olhos para a realidade dos pobres e humildes na sua relação com Deus. Enquanto a minha preocupação era se ele sabia o catecismo, ou se sabia rezar, ele surpreendeu-me com estas palavras, que só podem brotar do coração de alguém a quem o Senhor se revela pessoalmente: “Barani, rogo gi sende re mi adu ni boro rungo; mi naida ka zio batisimo ka bata be rungo ariyo.” (Padre, fui um pobre nesta terra; quero ser baptizado para me salvar da pobreza no Céu).
Fiquei sem palavras. A fé deste ancião ajudou-me a perceber que Deus não se preocupa se sabemos ou não as leis, ou se sabemos ou não dizer umas orações. Ajudou-me também a encontrar Deus no encontro com o pobre; aí, onde o pobre vive, Deus vive também. O encontro com o velho Geanmarie, como tantos outros encontros que vou tendo todos os dias, ajudou-me a perceber que Deus se revela nos pobres e humildes, que por sua vez nos revelam ‘coisas’ que ‘os sábios e os inteligentes’ tem dificuldade em entender.