Quando o senhor Nsofwa me veio chamar para ir visitar Albert Banda que, segundo ele, estava para morrer, partimos imediatamente. Eram três da tarde e fazia muito calor! Ponho o meu boné e pego na mochila. Eram só cerca de quinze minutos a pé para chegar à pequena casa onde Albert vivia com a sua esposa Judith e os seus dois filhos pequenos.
Ao entrar na pequena casa, vi-o deitado, no sofá velho e gasto, muito agitado e repetindo palavras que ninguém podia perceber. Movia-se continuamente e respirava com muita dificuldade! O sofrimento era bem visível no seu rosto. Fiquei em silêncio por alguns momentos. Para dizer a verdade, não sabia que dizer. Percebi que estava para morrer.
Rezámos juntos durante alguns momentos. Mas o silêncio parecia ser a única oração com sentido. Albert continuava muito agitado.
Enquanto rezávamos, os meus olhos percorriam o pequeno quarto, meio escuro, em que nos encontrávamos. A pouca luz que havia, passava por uma pequena janela sem vidros, mesmo junto ao lugar onde Albert se encontrava. Os meus olhos pousaram em Judith, a sua esposa que, sentada no chão, permanecia em silêncio com as lágrimas nos olhos.
Quando lhe peguei nas mãos para o ungir com o óleo dos enfermos, Albert ficou em silêncio. Depois, recebeu a comunhão com muita dificuldade ajudado por um pouco de água que lhe foi dada numa caneca de plástico azul que Rosária, a mãe de Judith, lhe trouxera. Algo extraordinário aconteceu. De repente, Albert parecia ter recuperado uma paz profunda: olhou para mim, começou a respirar normalmente, em silêncio, e ficou sossegado.
“Zikomo abambo” dizia Judith ao despedir-se de mim, “munamletera mtendere wa Yesu.” (Obrigado, padre, trouxeste-lhe a paz de Jesus). Parti com lágrimas nos olhos e um nó na garganta. Albert, Judith e os seus dois filhos pequenos no pensamento. Uma semana depois Albert morria… sereno!
Albert pertencia a uma família de políticos que, nunca quiseram saber dele enquanto esteve doente. Na altura do funeral não deixaram que a comunidade cristã organizasse o funeral religioso, contrário à prática dos crentes, não só aqui na paróquia de Lilanda mas na Zâmbia em geral. Por isso, não deixaram que o corpo viesse à igreja.
Quatro ou cinco dias depois do funeral, Judith, agora viúva, entrou no meu escritório com as lágrimas nos olhos. Os olhos inchados mostravam as consequências de várias noites sem dormir e muitas lágrimas derramadas. Para os crentes, não realizar a vontade de alguém que morre é assunto muito sério. E Albert era um homem de muita fé que, mesmo no pico da sua doença, só com muita dificuldade deixava de vir à igreja. Esperava certamente um funeral cristão!
Depois de me explicar como tinha decorrido o funeral, e como os parentes do marido não quiseram ter nada que ver com a igreja, Judith manifestou o desejo de fazer algo para que o seu marido, e ela também, estivessem em paz com Deus, uma vez que ele manifestara o desejo de ter um funeral cristão.
Então sugeri que celebrássemos a missa por ele e que alguns dos ritos fossem também celebrados. São de particular importância os discursos que se fazem para dar a conhecer a vida do defunto, sobretudo a sua vida cristã. Assim ficou combinado. Celebrámos o seu funeral na igreja mesmo se ele já não estava lá. Judith e os seus dois meninos ficaram contentes e em paz.
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