A minha caminhada higiénica ontem, domingo, 10 de julho, foi cheia de peripécias! Caminhava eu há cerca de meia hora, quando ultrapassei dois indivíduos, cada um mais bêbedo que o outro! Ambos conversavam animadamente, expressando uma felicidade do outro munto. Um caminhava ligeiramente mais à frente que o outro, e falava sempre com grande entusiasmo sem olhar para trás. Falavam em crioulo, mas deu para perceber a animação da conversa. O outro, mais carregado nos anos e na substância que tinha ingerido, precisava de toda a largura da rua para poder caminhar. De vez em quando parecia pedir licença ao chão para cair, mas logo a seguir, endireitava-se de novo quase milagrosamente, e com um impulso renovado, colocava-se novamente em marcha! Eram os dois indivíduos mais felizes encima do planeta.
Continuei a minha caminhada, contente por ter visto alguém
verdadeiramente feliz. Cerca de dez minutos depois, num lugar meio ermo, onde
me preparava para pagar o meu tributo à terra e regar um arbusto que me parecia
cheio de sede, vinha um jovem com cerca de 20 anos de idade com cara de menino
de papá. Estava visivelmente transtornado sob o efeito de alguma substância
forte, que não me parecia ser álcool, e que fazia um esforço titânico para se
manter ereto! Decidiu implicar comigo e seguiu-me durante alguns metros! Fiquei
assustado e, escusado será dizer, o dito arbusto ficou, pelo menos por algum
tempo mais, sem ser regado.
Na mão carregava eu a minha garrafa de alumínio cheia de
água. Estava eu a preparar-me para neutralizar o dito energúmeno, utilizando a
garrafa como arma de defesa, quando ele decidiu voluntariamente seguir o seu
caminho. Não ganhei para o susto!
Como se não bastasse, já na etapa de regresso, cruzei-me com
dois adolescentes que se meteram com uma senhora que passeava o seu cãozinho!
Ela era idosa, mas não se deixou intimidar pelos ditos cujos atirando-lhes com
os nomes mais coloridos que a língua portuguesa tem, e que não é conveniente
recordar aqui, mas que podem ser encontrados no Dicionário da Língua Portuguesa
da Porto Editora! E eram em tal quantidade que poderiam ter causado uma
indigestão. Fiquei com a impressão de que se conheciam; talvez vivessem no
mesmo bairro, mas a senhora era definitivamente do Norte!
Ao escutar a ladainha, eles deixaram-na e dirigiram-se a mim.
Com palavras bem audíveis, mas que eu preferi não escutar; começaram a
seguir-me e a dizer entre gargalhadas de gozo, que iam caminhar comigo. Naquele
momento pensei que, no mínimo, ia ficar sem o meu telemóvel. Mas logo tive a
oportunidade de virar na direção do bairro que estava próximo e imediatamente
me aproximei de um grupo de pessoas que conversavam. Foi aí que eu recuperei do
incómodo e continuei viagem.
Comecei então a pensar que talvez não tenha sido lá muito
boa ideia ter ido caminhar ao domingo à tarde sozinho!
Continuei com a minha caminhada que, nesta altura, já tinha
desgastado muito mais calorias do que tinha planeado. Faltava-me ainda cerca de
40 minutos para chegar a casa, e aproveitei ao máximo o resto da caminhada.
Quando estava quase a chegar a casa, depois de ter deixado de pensar nos
últimos acontecimentos, sai da paragem do autocarro - um espaço vedado à
circulação de outros veículos - um carro a toda a velocidade que quase me
atropelou! E ainda por cima, um dos passageiros do dito cujo, atirou-me uma
data de impropérios que me fizeram doer os ouvidos para o resto do dia.
Aparentemente eu devia ter travado para que suas excelências, que vinham a sair
de um lugar onde nunca deviam ter entrado, pudessem passar à velocidade de
cruzeiro.
Como devem calcular, tive uma tarde de domingo
verdadeiramente notável. Às vezes, ter uma vida saudável pode ser
verdadeiramente arriscado! Queimar calorias, num domingo à tarde, pode ter
efeitos secundários devastadores.